Soro Antiveneno de Cascavel

Um novo soro antiveneno de cascavel desenvolvido por pesquisadores do Instituto Butantan causa menos reações adversas que a soroterapia convencional. O soro usado há mais de cem anos é produzido com anticorpos de cavalos e ovelhas. Ele costuma causar reações que vão da urticária à insuficiência renal em 30% a 84% dos casos, porque injeta no organismo um grande número de proteínas que não são produzidas por ele. O novo soro é menos agressivo por ser elaborado a partir de fragmentos de anticorpos humanos e conter proteínas produzidas pelo próprio organismo. 

O principal componente ativo do veneno da cascavel, a crotoxina, diminui a resposta imune do organismo, que passa a produzir menos anticorpos como a anticrotoxina. Além disso, a substância é responsável pela inibição dos movimentos musculares que caracteriza a reação à picada da cascavel. A crotoxina inibe a liberação de acetil-colina, responsável pela transmissão do estímulo nervoso que faz o músculo se contrair. A ação do veneno é rápida e pode levar à parada respiratória em duas a seis horas. Quando o veneno é injetado, células sangüíneas chamadas linfócitos B passam a produzir anticorpos para combater seu efeito. “O problema é que a ação da crotoxina é muito mais rápida que a produção dos anticorpos, que demora alguns dias”, explica Ivan da Mota e Albuquerque, coordenador do projeto de produção do novo soro. Por isso, o produto precisa conter anticorpos de ação imediata para neutralizar a ação da crotoxina. 

Para entender o efeito da crotoxina sobre as células, os pesquisadores injetaram o veneno de cascavel em camundongos. “Também foi introduzida a crotoxina isolada, para sabermos se a anticrotoxina era suficiente para combater o efeito supressor no sistema imunológico”, explica Mota. Os cientistas identificaram os anticorpos específicos para as principais toxinas do veneno, o que permitiu elaborar um soro que diminuísse as reações adversas. Em seguida, a equipe conseguiu sintetizar o fragmento de um anticorpo humano capaz de neutralizar a atividade enzimática da crotoxina – o chamado anticorpo humano recombinante ou scFv. 

No entanto, a comprovação da ação desse anticorpo e da possibilidade de fabricar in vitro o novo soro não bastam para viabilizar sua produção em grande escala. “Precisaríamos de um volume grande de anticrotoxina, o que sairia muito caro”, explica Mota. “A utilização do soro convencional continua sendo uma opção ao scFv”. Os anticorpos recombinantes produzidos in vitro já vêm sendo usados com sucesso em tratamentos de câncer, artrite reumatóide e outras moléstias. 

O projeto, iniciado em fevereiro de 1997 e terminado em 1999, recebeu financiamento da FAPESP e resultou na tese de doutorado de Diva Cardoso, além de um artigo na mais importante revista científica sobre venenos animais, Toxicon, assinado por Mota e Diva. Nascido em Recife, em 1920, Ivan da Mota e Albuquerque é diplomado em Medicina, pela Universidade de Recife (1947), onde permaneceu até 1952, como professor assistente. Obteve o título de Doutor na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em 1953. Nos últimos doze anos, ocupa a posição de cientista chefe do Instituto Butantan, em São Paulo, trabalhando no laboratório de imunopatologia.

Fonte: http://www.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n184.htm
http://www.fapesp.br/ciencia559.htm
acesso em janeiro de 2002
http://www.fundacaobunge.org.br/fundacaobunge/galeria/areas.asp?1 
acesso em agosto de 2002

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