As explosões realizadas pelos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial chamaram a atenção dos militares e cientistas brasileiros. No início da década de 40, antes da primeira bomba atômica a ser detonada, os EUA, que já faziam pesquisas na área nuclear visando objetivos militares, firmam o primeiro programa para a prospecção de recursos minerais brasileiros. Este programa resultou em diversos acordos, firmados na mesma década e na seguinte, chegando o Brasil a trocar, em 1954, dez mil toneladas de minerais radioativos brutos (monazita e terras raras) por cem mil toneladas de trigo. Nos Anais da Academia Brasileira de Ciências em 1944 documentam-se as primeiras pesquisas sobre teorias das forças nucleares. A primeira tentativa brasileira de enriquecer urânio ocorreu em 1953, quando o almirante Álvaro Alberto, então presidente do CNPq, ao tomar conhecimento sobre a tecnologia de separação isotópica por ultracentrifugação, desenvolvida pelos alemães, adquiriu naquele país quatro máquinas. O problema é que a Alemanha, ao perder a guerra, ficou sob o domínio dos EUA, que vetaram o despacho das ultras centrífugas para o Brasil. Os conjuntos acabam sendo interceptados pelo Alto Comissariado do Pós Guerra, 24 horas antes do embarque para o Brasil, a partir de denúncia feita pelo militar brasileiro Octacílio Cunha.
Os materiais combustíveis básicos para geração de energia nuclear, encontráveis na natureza, são o urânio e o tório. Outro material de importância, mas obtido por irradiação do urânio, é o plutônio. Dos principais isótopos físseis: 233U, 235U, 239Pu, 241Pu, somente o 235U ocorre naturalmente, em concentrações menores que 1% em massa (0,71%). O restante é composto praticamente do 238U, o qual é fissionável. Os outros isótopos físseis acima citados podem ser obtidos por absorção de nêutrons e subsequente decaimento beta pelos materiais férteis: 232th, 238U e 240pu.
Em 1946, numa reunião das Nações Unidas em que os EUA propuseram um tratado internacional que criaria uma autoridade mundial responsável pela gestão de todas as reservas de urânio do mundo, o Brasil, representado pelo almirante Álvaro Alberto, juntamente com a União Soviética, são os únicos países a oporem-se ao chamado Plano Baruch, que assegurava aos EUA o monopólio da tecnologia e das matérias-primas nucleares no mundo ocidental. Nesta oportunidade, Álvaro Alberto propôs o Princípio das Compensações Específicas, em que o Brasil, assim como outros países subdesenvolvidos, forneceriam a matéria prima desejada em troca de um preço justo e da prioridade na instalação, em seu território, de reatores nucleares de todos os tipos.
Com o suicídio do presidente Getúlio Vargas e a exoneração de Álvaro Alberto da presidência do CNPq termina a chamada fase nacionalista. O novo presidente, Café Filho, assina, já em 1955, a integração do Brasil ao programa americano “Átomos para a Paz”. O programa sinalizava que os EUA haviam desistido de impedir o acesso de outros países às tecnologias atômicas procurando agora inseri-los sob o seu controle e vigilância. O Brasil assinou um tratado de cooperação com os Estados Unidos em 1955 e os equipamentos acabaram sendo entregues em 1956, após negociações conduzidas pelo almirante Otacílio Cunha, então presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear. As ultra centrífugas foram instaladas no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo, onde serviram para o professor Ivo Jordan, à frente de um grupo de pesquisadores, realizar estudos referentes à eficiência da tecnologia, tema de sua tese de doutorado. Feitas de alumínio, as máquinas apresentavam vários problemas técnicos, entre os quais o de contaminação do urânio com o óleo lubrificante. Num determinado momento esse trabalho foi encerrado e as centrífugas acabaram sendo enclausuradas num prédio do IPT.
Em 1963, o Instituto de Energia Nuclear, criado em convênio da Cnen com a UFRJ, passa a construir um reator com componentes nacionais, à exceção do combustível. Chamado de Argonauta, o reator entra em operação em 1965. Nesse momento, a Cnen é o órgão que gere a exportação de minérios para uso nuclear. Ainda em 1967 a Cnen, agora vinculada ao Ministério das Minas e Energia, firma um acordo para a construção da primeira central de geração de energia nuclear. O lugar escolhido é Angras dos Reis, principalmente pela proximidade com os grandes centros do sudeste. Uma concorrência internacional é aberta, em 1970, para a compra do reator de Angra 1 e é vencida pela norte-americana Westinghouse, subsidiária da General Electric. Em 1972 o Brasil assina um novo acordo com os EUA, em que estes forneceriam urânio enriquecido e o reator de potência a ser vendido para o Brasil seria um PWR (Reator de Água Pressurizada). Era um contrato do tipo caixa-preta, em que a última coisa que ocorreria seria a incorporação de tecnologia. Também o financiamento do projeto gerou muitas suspeitas, pois foi feito por um banco que logo em seguida foi comprado pelo então Ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen.
Em 1974, FURNAS negociou a compra de suprimento de urânio e o negócio foi rejeitado pelo governo americano, que só o faria se o Brasil assinasse o Tratado de Não-Proliferação. O dinheiro da compra do urânio foi devolvido e o governo não assinou o TNP. A explosão da bomba pela Índia em 1974 dificulta ainda mais as negociações com os americanos para a construção do reator brasileiro. Em virtude disso, em 1975, é assinado, sob protestos do governo norte-americano, o Acordo Brasil-República Federal da Alemanha. Os alemães tinham perdido a concorrência para a primeira usina brasileira e já estavam presentes na Argentina, com Atucha I e a Siemens estava estabelecida aqui. Além do mais, o Parlamento da Alemanha impôs uma moratória à energia nuclear por quatro anos à indústria nuclear daquele país. A união com o Brasil a salvaria da falência. O acordo com a Alemanha, entretanto, não significou uma grande melhoria com relação à transferência de tecnologia. O contrato continuava a ser no estilo caixa preta e pressões populares na Europa dificultaram o envio de material radioativo para o Brasil.
Foi achada uma solução maquiavélica. O âmago do acordo era, obviamente, o enriquecimento do urânio, desejado pelos brasileiros. Como a Alemanha, Holanda e Inglaterra eram coproprietárias da tecnologia de enriquecimento do urânio, através do consórcio URENCO, alegaram que os outros participantes não concordavam com a transferência do processo de ultracentrifugação. Atualmente apenas a Inglaterra, Alemanha e Holanda, por meio do consórcio Urenco, e França, Japão e Rússia enriquecem o urânio com a tecnologia de ultra centrífugas. Os Estados Unidos usam a tecnologia de difusão gasosa. Como alternativa para o Brasil restou ficar com o de jato centrífugo, tecnologia engavetada então há mais de vinte anos e, por natureza, ineficiente. A partir de 1978, o contra-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, “que acabara de chegar de um programa de pós-graduação na área nuclear tinha noção clara da importância da tecnologia de enriquecimento isotópico de urânio por ultracentrifugação, frente às tecnologias de difusão e jet-nozzle”.
No entanto, a combalida política nuclear desenvolvida durante estes anos foi suficiente para criar uma classe de pesquisadores bastante atuante na defesa da pesquisa nuclear no Brasil. Apesar da opção do Estado brasileiro de importar totalmente a tecnologia para a construção de reatores de potência, a pesquisa nuclear continuou localizada principalmente nos centros de pesquisa universitários e com o forte apoio de um grupo de militares. Em 1979, inicia-se o Programa Nuclear Paralelo, desenvolvido pela marinha e apoiado pelo Ipen/Cnen-SP (antigo IEA) com o objetivo de desenvolver um submarino nuclear. Em 1979, houve a implantação do Complexo de Aramar, com o pseudônimo de “Estação de Ensaios de Equipamentos a Vapor” dispondo de farta alocação de recursos financeiros, através de contas “deltas” (conta secreta na filial de Luxemburgo do Banco di Roma, com um saldo de US$ 700 milhões, e outra no Banco do Brasil) e aproveitamento de recursos humanos e tecnológicos (IPEN-SP). Aramar, segundo o comandante Paulo Afonso, é uma palavra composta das sílabas iniciais de Araçoiaba, nome indígena do local e que significa Casa do Sol – o que, aliás, vai bem com energia nuclear – e a sílaba inicial de Marinha. Assim, Aramar é a Casa do Sol da Marinha. Conforme o contra-almirante Mario Cezar Flores, “O projeto Aramar será um centro de testes de propulsão, inclusive para o submarino nuclear, conforme tecnologia já aplicada em outros países, como a Inglaterra. Os testes com o reator do submarino movido a energia nuclear são feitos em terra.”
Mas em que consiste a tecnologia de ultra centrífugas ? Em termos simples, a ultra centrífuga segue o mesmo princípio das centrífugas domésticas, usadas para preparar alimentos: propicia a separação do material de maior peso, que é jogado para a parede do recipiente, daquele de menor peso, que fica mais concentrado no centro. No processo chamado de enriquecimento acontece algo semelhante. O U-235 é apenas ligeiramente mais leve que o U-238, adiciona-se flúor ao metal, formando o gás hexafluoreto de urânio. Para o combustível nuclear interessa apenas o isótopo 235, que é físsil. E como no urânio natural há uma quantidade muito pequena de U-235 (apenas 0,7% enquanto há 99,3% de U-238), é preciso fazer essa separação, ou aumentar a concentração do urânio físsil. Dentro da centrífuga, o isótopo de urânio 235 tende a concentrar-se mais no centro, e o 238 fica mais próximo à parede do cilindro. Duas tubulações de saída recolhem o urânio, sendo que numa delas segue o urânio que tiver maior concentração de isótopos 235 (urânio enriquecido), e na outra, o que tiver mais 238 (chamado de subproduto). Dessa centrífuga o urânio é repassado para outra centrífuga e assim por diante, num processo em cascata. No final dessa cascata é recolhido o urânio com maior nível de enriquecimento, enquanto que na base permanece o subproduto. Através de uma tubulação, o hexafluoreto de urânio (UF6) é aquecido em uma autoclave a 100°C, adicionam-se outras substâncias, dando origem ao tricarbonato de amônia uranila. Quando o gás passa por um filtro o pó de dióxido de urânio (UO2) fica retido e é prensado e aquecido a 1.750°C. O aproveitamento unitário das centrífugas é muito pequeno, sendo portanto necessário uma bateria de máquinas para permitir a obtenção de maior quantidade de urânio enriquecido.
De 1976 a 1978, amadureceu na Marinha a ideia de que o Brasil deveria se preparar para construir um submarino com propulsão nuclear, importante instrumento naval de dissuasão e defesa. Admitiu-se que seria indispensável a tecnologia própria, porque nenhuma grande potência a transferiria (Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China). Avaliado o cenário tecnológico nacional, a Marinha juntou-se ao IPEN – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (que dispunha de técnicos à margem do acordo com a Alemanha) no desenvolvimento do ciclo do combustível e do reator, tendo sido adotada a ultracentrifugação para o enriquecimento. O projeto das ultras centrífugas especificamente começou a ser pensado em 1978 e iniciado de fato a partir de 1980.
Em 1982 a MB assinou contrato com o Consórcio Alemão IKL/HDW/Ferrostaal dando início ao Programa de Construção de Submarinos, que deverá culminar com o lançamento entre 2015/2020 do SNA(submarino nuclear de ataque) brasileiro. O Contrato inicial previa a construção de 4 submarinos IKL1.400(Classe Tupi) e as instalações para construção de submarinos no Arsenal de Marinha. Este programa chegou ao seu final com o lançamento do submarino Tapajó (S-33), terceiro de projeto alemão construído no Brasil somando-se ao Tupi construído na Alemanha, já se encontra operacional e custou US$200 milhões. Portanto, os 04 Tupis custaram cerca de US$ 800 milhões. Estima-se que o programa total custou pelo menos US$ 1 bilhão (veja também a matéria sobre o submarino Tamoio).
A segunda parte do Programa envolve a capacidade de projetar um submarino convencional derivado do projeto IKL original, que atualmente encontra-se em construção, trata-se do casco resistente do Tikuna (S-34). Esse submarino é um “Improved Tupi”, uma classe intermediária entre os “Tupi” e a futura classe de subs brasileiros ou SNAC-I (atualmente SMB-10). O projeto do Tikuna é da Diretoria de Engenharia Naval, com auxílio técnico da HDW alemã. Em seguida a MB deverá construir um ou dois SMB-10, um submarino convencional com um deslocamento carregado de 2.500 toneladas, com casco de pressão duplo com 08 metros de diâmetro e 67 metros de comprimento. Será na verdade a bancada de testes para o SNA(Submarino Nuclear de Ataque). Já de projeto inteiramente nacional, espera-se que os sensores e o CIC/COC (centro de operações de combate) sejam também nacionais, provavelmente uma versão do Siconta instalados nas Fragatas Niteróis e na Corveta Barroso.
Este programa foi mantido durante um longo período fora do conhecimento público. Em setembro de 1987, o então presidente José Sarney anunciou o domínio do enriquecimento do urânio, alcançado pelos pesquisadores envolvidos no Programa Nuclear Paralelo. Enriqueceram urânio a 1,2%, nível insuficiente para qualquer uso prático. Angra I utiliza pastilhas com pelo menos 3% de enriquecimento, quando o combustível é novo. No ano seguinte, a Nuclebrás é extinta e o Programa Nuclear Paralelo é incorporado às pesquisas oficiais, através do Decreto-lei 2.464 de 31 de agosto de 1988. Segundo José Roberto Rogero, diretor de materiais do Ipen, hoje o Brasil domina o ciclo do enriquecimento do combustível para reatores nucleares de pesquisa, estando à tecnologia para reatores de potência pronta para a industrialização, que deve ser feita pela INB (Indústrias Nucleares do Brasil).
O desenvolvimento nuclear do Brasil deve muito a um especialista em ultracentrifugação a gás para enriquecimento de urânio, além de dinheiro. Ele teria passado ao Centro Experimental de Aramar, da Marinha, em Iperó-SP, considerado a vanguarda do programa nuclear paralelo brasileiro, a tecnologia de ponta para o enriquecimento de urânio por ultracentrifugação a gás. Em 29.12.1996, o jornalista Moisés Rabinovici escrevia em “O Estado de São Paulo” que “o cientista alemão Karl-Heinz Schaab estava preso no Rio de Janeiro porque a Alemanha queria julgá-lo por traição pela venda de segredos para a produção de armas nucleares para o Iraque”. A investigação que incriminava Schaab foi realizada por serviços de contraespionagem inglês, alemão e holandês depois da descoberta de reproduções fotográficas de uma secreta e avançadíssima centrífuga a gás, desenvolvida por um consórcio europeu, o URENCO, projetada para enriquecer urânio. Schaab teria roubado diversos projetos de construção e manufatura de ultracentrifugadoras para enriquecimento de urânio. A polícia federal alemã (a BKA) concluiu que as reproduções tinham sido roubadas e vendidas ao Iraque antes do final da Guerra do Golfo, em 1991. A repórter Tania Malheiros, que passou dez anos investigando a sombria área nuclear no Brasil, acredita que possa ter havia repasse de tecnologia para o então diretor de Aramar capitão-de-fragata Othon Luís Pinheiro da Silva.
Para projetar e desenvolver a instalação propulsora do submarino nacional de propulsão nuclear, a MB, através do CTMSP, necessitava vencer etapas bem definidas de desenvolvimento tecnológico: o enriquecimento isotópico de urânio (de modo a garantir o domínio tecnológico de todo o ciclo de combustível nuclear); e o projeto, desenvolvimento e construção, em terra, de uma instalação protótipo de propulsão nuclear, denominada Instalação Nuclear a Água Pressurizada (INAP). Depois de vencida a barreira do enriquecimento, a Marinha passou a enfrentar outras dificuldades. Apesar de todos os tratados assinados e ratificados pelo País, a venda do hexafluoreto de urânio natural (UF6) para o CTMSP continuou a ser negada por outros países. Essa dependência impôs à Marinha programar o projeto e a construção de uma unidade de produção de UF6, com capacidade de 40 ton./ano. Essa instalação, prevista para ser concluída em 2002, permitirá que a Marinha domine, também, a única fase do ciclo do combustível ainda não desenvolvida no País. O PNM previu o desenvolvimento de uma instalação protótipo de propulsão nuclear, com um reator a água pressurizada (PWR) de 11 megawatts-elétricos, a lNAP, a ser construída no CEA, e que é a primeira instalação nuclear de potência projetada no País. Em uma primeira fase do Projeto da INAP, estão sendo fabricados o reator e seus internos, além de testados os equipamentos propulsores, turbinas e geradores.
O Programa de atividades do CTMSP é dividido em dois grandes grupos: Ciclo do Combustível Nuclear e Instalação Nuclear à Água Pressurizada (INAP). O projeto do Ciclo do Combustível Nuclear visa dominar as etapas necessárias à obtenção do urânio enriquecido (contém maior concentração do isótopo de urânio 235 U), para utilizá-lo nos elementos combustíveis do núcleo de um reator nuclear. O projeto da INAP tem como objetivo construir um reator nuclear, do tipo Pressurized Water Reactor (PWR), o qual será empregado em sistemas de propulsão naval.
O reator RENAP-11 (Reator Naval de Potência de 11 Megawatts), que é o primeiro reator nuclear de potência projetado no País, a instalação-protótipo do sistema de propulsão nuclear está sendo construído no Centro Experimental Aramar. O projeto deste reator de pequeno porte, do tipo Pressure Water Reactor (PWR), tem-se constituído em grande fator de motivação para o desenvolvimento e a validação da tecnologia de reatores nucleares de potência. Este protótipo em escala menor do reator de 50 MW entrará em funcionamento no ano de 2002. O vaso de contenção do reator já está pronto para começar a montagem do mesmo. A MB também resolveu incluir no Programa a construção de uma planta industrial para produzir em escala comercial o gás hexafluoreto de urânio, que é um dos estágios necessários para o enriquecimento do urânio, que também deverá ser concluída em 2002.
O sistema de controle, inteiramente nacional, que está sendo desenvolvido para o RENAP-11 corresponde, em termos internacionais, ao estado da arte da tecnologia de controles. Trata-se de um sistema digital, hierarquizado e distribuído, com alto grau de modularização e padronização, com possibilidade de aplicação em outras instalações nucleares, industriais e navais, que constitui significativo avanço em relação aos sistemas de controle atualmente utilizados em centrais núcleo-elétricas. Este desenvolvimento tem permitido a capacitação do País em metodologia de projeto e de qualificação de sistemas, hardware e, principalmente, software com elevados requisitos de segurança, de “falha segura” e de “controle de erros”. Muitos dos instrumentos utilizados neste sistema têm, sem dúvida, aplicação imediata nas áreas industrial e naval.
Como no Brasil não havia tradição de fabricação de equipamentos elétricos e a vapor utilizados em sistemas navais de propulsão, o Programa teve que contemplar o desenvolvimento, a nacionalização e a industrialização de diversos componentes e equipamentos de emprego naval, tais como turbina a vapor, condensadores, bombas, motores e geradores elétricos. O Laboratório de Desenvolvimento de Equipamentos de Propulsão (LADEP), único do gênero em nosso continente, que está sendo construído no Centro Experimental Aramar, permitirá a realização de testes e a validação experimental desses equipamentos e de outros do gênero, que venham a ser fabricados pela nossa indústria. O motor de comutação eletrônica excitado por imãs de terras raras, que está sendo desenvolvido em conjunto com a Escola Politécnica da USP, por meio da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE), para o sistema de propulsão de uma Segunda geração de submarinos, constitui-se também em notável inovação tecnológica em termos de máquinas elétricas empregadas em propulsão e tração.
Este tipo de motor, que combina a simplicidade de construção dos motores polifásicos com a facilidade de controle de velocidade do motor de corrente contínua, terá, seguramente, larga aplicação em tração elétrica de trens e ônibus, laminação de metais, máquinas, ferramentas e inúmeros outros usos industriais onde seja requerida velocidade variável, proporcionando considerável economia de energia. O desenvolvimento do protótipo da plataforma naval abarca um leque de áreas de conhecimentos afins com o projeto, construção, manutenção, reparos e operação de navios que, neste caso, leva toda a filosofia e metodologia do trabalho associado à pesquisa tecnológica e indústria nuclear ao setor constituído pela indústria de construção naval e de navi-peças, de considerável importância econômica para o País. O Laboratório de Hidrodinâmica Naval e Oceânica, está sendo construído em Aramar, e o Laboratório de Mecânica Estrutural no Rio de Janeiro, deverão dar grande contribuição experimental a esses desenvolvimentos.
Um aspecto extremamente relevante na obtenção do submarino de propulsão nuclear diz respeito a equipamentos e sistemas não constantes da instalação propulsora, considerados como estratégicos, ou seja, cuja aquisição no mercado externo possa vir a ser dificultada por condicionantes políticos e/ou aqueles cuja dependência de fornecedor estrangeiro possa comprometer o aprestamento do submarino. E entre os sistemas para os quais já se considera previsíveis sérias dificuldades para importação ou transferência de tecnologia se situam o sistema de navegação inercial (a MB está fazendo testes com sistemas de giroscópio, que possuem 14 aletas de controle, para serem utilizados em mísseis e SNA’s) ; consoles de governo e profundidade; sonares acústicos e eletromagnéticos; sistemas de comunicação em baixa frequência; e os sistemas de armas. Estes desenvolvimentos estão a cargo do Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM).
Todo o programa tem uma supervisão técnica e epistemológica do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), o qual conta com 600 profissionais de nível superior e cerca de 1000 de nível técnico e está localizado na Universidade de São Paulo (USP). A necessidade de utilização de materiais com tecnologia não disponível no País tem exigido do Programa grande ênfase no desenvolvimento de novos materiais, para o que se tem investido fortemente na formação e capacitação técnica de recursos humanos nessa área. O planejamento de um curso de Engenharia de Materiais em Sorocaba e da criação de uma Escola Técnica, nas dependências do Centro, para formação de técnicos de nível médio nas áreas de mecânica de precisão e materiais, está inserido nesse esforço e deverá atender as necessidades futuras da região. Portanto, este programa é muito mais do que se tem noticiado, sua extensão ajudará o Brasil a superar muito do atraso tecnológico no campo científico.
Um submarino convencional dispõe de um gerador diesel e banco de baterias. O gerador diesel não está conectado diretamente ao sistema de propulsão. O sistema de propulsão de um submarino está ligado aos bancos de baterias e o gerador diesel recarrega tais baterias. Esta questão técnica implica numa jornada nos mares estar limitada ao combustível transportado e à vida útil das baterias. No caso de um submarino nuclear, como mostrado abaixo, o sistema de propulsão está diretamente conectado aos circuitos de geração termonuclear. O vaso do reator foi fabricado na NUCLEP e já foi entregue (ago./2002) à Marinha. A partir de julho de 2002, após equacionar detalhes técnicos e econômicos, incluindo a garantia da continuidade dos recursos necessários à implantação, para que o acordo seja formalmente assinado entre as partes, o Brasil dará um passo estratégico rumo à independência na área nuclear, passando a dominar uma das etapas mais importantes do ciclo do combustível, o enriquecimento isotópico do urânio por ultracentrifugação, o que também irá lhe assegurar um lugar cativo no restrito rol de países que hoje executam esse processo.
O submarino convencional é muito discreto quando propulsado pela energia de suas baterias, mas essa discrição é comprometida quando ele navega na superfície ou próximo dela, de modo a aspirar da atmosfera e nela descarregar pela tubulação esnórque1, para recarregar as baterias e poupar sua energia para as situações táticas de interação com o adversário. Assim, embora o submarino convencional possa ser mais discreto por curtos períodos, o nuclear é mais discreto no cômputo geral, porque independe da atmosfera. Outra vantagem do submarino nuclear é a distância que o submarino pode navegar e a velocidade com que pode fazê-lo. É flagrante a superioridade do submarino de propulsão nuclear, capaz de alcançar área distante com rapidez e nela executar patrulha extensa, graças à boa velocidade que pode manter por longos períodos. Essa vantagem também existe no cenário tático, pois o nuclear assume posição de ataque e se evade da reação com maior rapidez do que o convencional, que está sujeito às limitações das baterias. Foi à mobilidade dos submarinos nucleares que permitiu aos ingleses a rápida implementação e a eficiente manutenção da zona de exclusão no teatro das Malvinas, com poucos submarinos. Outra vantagem é a possibilidade de o submarino nuclear operar por longo tempo, já que o combustível é inesgotável, sob a perspectiva prática operacional. Sua autonomia (tempo fora da base) é limitada apenas pela resistência das tripulações e pela capacidade de transportar gêneros (ou pelo consumo das armas), mas a do convencional é condicionada pela capacidade e pelo consumo de combustível.
Segundo a Marinha, o SNAC-II (primeiro submarino nuclear brasileiro), deverá deslocar entre 2.900/3500 toneladas submerso, ter cerca de 70m de comprimento, diâmetro de pelo menos 08 metros, possuirá um reator PWR de 48 Megawatts e poderá navegar a 28 nós de velocidade. Terá características semelhantes à classe francesa Rubis/Amétysthe ou à britânica Trafalgar. Devido ao ritmo lento de investimentos, o submarino nuclear brasileiro poderá estar singrando os mares por volta do ano 2015/2020. Até lá, espera-se que os sensores e o armamento já estejam inteiramente nacionalizados. O projeto do casco já está em andamento, mas o reator só deverá ficar pronto no ano 2005. O sistema propulsivo terá uma planta bem simples, produzindo vapor diretamente por meio de um gerador, a partir do circuito do reator PWR, o circuito secundário será o de vapor e sua refrigeração atuando por gravidade/diferença de pressão, o vapor gerado pelo sistema moverá diretamente uma turbina que estará ligada ao eixo do hélice, o submarino deverá contar com um motor elétrico movido por bateria e alimentada por um gerador, a fim de movimentar o submarino em caso de falha do sistema principal.
De acordo com o Centro Tecnológico da Marinha, desde que o submarino começou a ser projetado, em 1979, já foram investidos cerca de US$ 950 milhões. Outros R$ 750 milhões estão previstos até a conclusão, totalizando aproximadamente US$ 1,4 bilhão. Última previsão, 2025. Segundo o centro “a tecnologia aplicada no programa é inteiramente nacional e está sendo desenvolvida por brasileiros”. O Arsenal de Marinha já construiu 3 submarinos convencionais. O projeto tem sido desenvolvido em parceria com entidades como IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), USP, UNICAMP, IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) e Centro Aeroespacial. Ao mesmo tempo em que construía os submarinos classe “Tupi”, o Brasil gastou mais US$405 milhões, de 1979 a 1991, no desenvolvimento do projeto do submarino nuclear.
Deste total, US$180 milhões foram gastos com o desenvolvimento do ciclo de combustível e US$225 milhões com o desenvolvimento do reator e seus componentes. O total dos investimentos, sem incluir o preço do primeiro submarino deverá custar US$ 1,2 Bilhão de dólares, segundo informes da MB já foram gastos no Programa até agora cerca de US$ 900 milhões, devendo ainda serem gastos mais US$ 120 milhões para a conclusão dos reatores PWR. O custo de cada sub nuclear é estimado entre 350/400 milhões de dólares, sem contar o gasto do desenvolvimento do SNA. Devido à queda dos orçamentos militares, o total dos custos do projeto vem sendo bancado exclusivamente pelo orçamento da Marinha do Brasil, que investe cerca de US$ 26 milhões por ano, estima-se que o reator RENAP 50(na verdade 48) Megawatts, junto com o sistema propulsivo (INAP), estejam concluídos entre 2007 e 2011. A construção do edifício para abrigar estas instalações do INAP já esta em andamento.
Ao contrário das potências nucleares, o Brasil tem cumprido fielmente suas obrigações internacionais. “O Brasil tem cumprido tudo de maneira exemplar e o mesmo não tem sido feito pelas potências nucleares, que não estão cumprindo com suas obrigações, de acordo com o artigo 6º do TNP, que pede que elas entrem em negociação para eliminar todas as armas nucleares. Então, o Brasil não se sente devedor nesse campo”, declarou. “Em relação à Resende, é uma questão específica de negociar a forma como é feita a inspeção. Os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica não são necessariamente espiões. A única coisa certa é que temos de ser cautelosos”, afirmou o ministro. Na realidade, os norte-americanos querem ter acesso ao funcionamento das ultras centrífugas utilizadas para o enriquecimento de urânio, cujo processo foi desenvolvido com tecnologia nacional. O Brasil possui uma das maiores reservas mundiais de urânio. Atualmente, o país é o sexto maior produtor de urânio do mundo, com apenas 25% de seu território pesquisado. O objetivo é alcançar a autossuficiência no enriquecimento até 2008, resultando em grande economia de divisas uma vez que grande parte do minério hoje explorado é enriquecido fora do país. As principais ocorrências de urânio se concentram nos estados da Bahia, Ceará, Paraná e Minas Gerais. O país possui ainda presença de urânio associado a outros minerais no Amazonas e em Carajás (PA).
Em apenas 30 anos, a energia nuclear aumentou a sua participação na produção total de energia elétrica partindo de um valor extremamente pequeno, 0.1%, para um valor substancial de 17%. Para se dar a perspectiva deste desenvolvimento importante à energia hidrelétrica cuja tecnologia vem sendo empregada há cerca de um século participa no balanço elétrico mundial com cerca de 18%, e as perspectivas de um aumento deste valor são limitadas a nível mundial, o que não é o caso da energia nuclear. A energia nuclear, após o início do seu emprego para a produção comercial de energia elétrica, há apenas cerca de quatro décadas, já é a segunda fonte mais empregada para a produção de energia elétrica em países industrializados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a terceira fonte mais utilizada a nível mundial, bem próximo da segunda fonte, a energia hidroelétrica. Isto demonstra que a energia nuclear constitui-se em uma tecnologia madura e comprovada e que permanecerá no balanço energético mundial por muito tempo.
Fonte:
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http://www.cnen.gov.br/cnen_99/educar/energia.htm
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http://www2.uol.com.br/JC/_2000/0901/br0901b.htm
Acesso em janeiro de 2003