Telescópio Anti-Oxidação

As invenções começaram cedo para Riedel. Em 1953, aos 13 anos, num acampamento de escoteiros, ele apaixonou-se pelo céu e construiu seu primeiro telescópio, uma estrutura quadrada feita de caixote de madeira. Em 1954, um grupo de astrônomos amadores em Belo Horizonte, entusiastas e abnegados, fundaram o CENTRO DE ESTUDOS ASTRONÔMICOS DE MINAS GERAIS (CEAMIG), ao qual Riedel filiou-se. E foi nesta organização não governamental que, ainda adolescente, ele começou a aprender e ensinar Astronomia: “Até um programa de rádio muito original foi criado em uma estação local em 1954: em uma nave espacial imaginária, um grupo de pessoas “viajavam” através do espaço enquanto o “comandante”, que era astrônomo, descrevia os astros que estavam sobrevoando”. Como resultado, a entidade teve atuação positiva em prol da Astronomia em Minas Gerais, tendo inclusive atuado de forma decisiva para a criação do Observatório Astronômico da Serra da Piedade, que pertence à UFMG.

 

A família acabou jogando-o na faculdade de Bioquímica e, depois, na de Engenharia Sanitária. Para não perder os astros de vista, Riedel passou a fabricar telescópios para amigos. Começou observando crateras na Lua e logo viajou para Júpiter. O professor calcula ter fabricado entre 1.500 e 1.600 aparelhos. Foram para escolas francesas, astrônomos amadores e tribos da Amazônia. “O primeiro telescópio do Norte do Brasil foi feito por ele. Instalei em Roraima para observar o cometa Halley em 1985. Muitos telescópios importados têm espelhos colocados em metal, que oxida com a umidade brasileira. Os do Riedel são colocados em vidro”, ensina o físico Marcomed Rangel Nunes, do Observatório Nacional, no Rio. Segundo Marcomed, um dos trunfos de Riedel é dominar a tecnologia para fabricar telescópios com abertura de 18 centímetros, que capta mais luminosidade dos astros do que os aparelhos importados, com 15 centímetros de diâmetro, em média. Para o diretor do Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais, Eduardo Pimentel, Riedel é o melhor ótico do País. “A astronomia nacional deve muito a ele, apesar do velho atraso na entrega”, atesta o astrônomo.

Em 1977 transfere-se para o Observatório Astronômico da Serra da Piedade (Instituto de Ciências Exatas, Dep. de Física/UFMG), a convite de seu primeiro Diretor, prof. Francisco de Assis Magalhães Gomes, para ali atuar como óptico. Ocupou este cargo durante 21 anos, até que se aposentou em 1998. Participou de quase todos os movimentos para divulgar e incentivar a astronomia em Belo Horizonte e em Minas Gerais, incluindo o que culminou com a criação do Observatório Astronômico da Serra da Piedade e das tentativas de implantar um planetário em nossa capital. Em 1995 iniciou um programa de implantação de Observatórios Astronômicos no Brasil, fabricando as cúpulas e em um deles o telescópio.

Com o objetivo de fabricar instrumentos astronômicos de qualidade para os astrônomos amadores brasileiros, fundou em 1978 em Belo Horizonte (MG), a B. RIEDEL CIÊNCIA E TÉCNICA. Em sua fábrica, a B. Riedel Ciência e Técnica Ltda., telescópios modernos nascem em meio a velhas máquinas de costura, colchões rasgados e geringonças enferrujadas que um dia poderão ter utilidade. Seu maior orgulho é a câmara de vácuo que consumiu cinco anos de trabalho, vários deles juntando polias de assadeira de frango (a popular televisão de cachorro), bomba de vácuo da Força Aérea americana e correia de copiadora. Antes de entrar na câmara de vácuo para ser transformada em espelho de telescópio, a lente é aquecida num antigo forno de pizza.

O principal instrumento utilizado pelos astrônomos para estudar o Universo é o telescópio. Existem três tipos de telescópios: refratores, constituídos apenas por lentes; refletores, constituídos apenas por espelhos; catadióptricos, constituídos por lentes e espelhos. O telescópio refrator, é também chamado de luneta, principalmente quando é de pequena dimensão. A luneta de Galileu é um telescópio refrator, aonde a ocular é uma lente divergente. Até 1851, os espelhos em geral eram fabricados com uma liga metálica chamada “speculum”, obtida mediante a fusão de cobre (71%) e estanho (29%). Na fabricação dos espelhos de seus telescópios (1671) Isaac Newton utilizava uma liga semelhante chamada “bell-metal”, muito conhecida dos alquimistas da época devido a sua semelhança com a prata, à qual ele adicionava um pouco de arsênico. Quando polido, o speculum brilhava com uma reflexão da ordem de 50%. Mas devido à alta concentração de cobre, a liga se oxidava, perdendo grande parte de seu poder de reflexão, necessitando o espelho ser polido novamente. Esta era uma operação trabalhosa, pois os espelhos metálicos, além de difíceis de polir, eram muito pesados. Em 1851 o químico alemão Justus Von Liebieg desenvolveu um processo prático para a precipitação da prata metálica sobre superfícies de vidro, tornando-as refletoras.

Mesmo se oxidando depois de alguns meses, é mais fácil remover a prata do que polir novamente um pesado espelho metálico. A partir daí, os telescópios de reflexão tiveram um grande impulso, atingindo aberturas impossíveis de se obter com os telescópios de refração. Finalmente, em 1934 os físicos Strong e Williams nos Estados Unidos conseguiram simplificar a técnica de deposição do alumínio em alto vácuo sobre a superfície de espelhos astronômicos. Ao contrário da prata, o alumínio tem boa aderência ao vidro e grande resistência à oxidação, podendo um aluminizado durar anos, desde que bem cuidado. Mas nos grandes telescópios profissionais, geralmente de tubo aberto, a realuminização é feita uma vez por ano. A deposição é realizada em câmaras de vácuo aonde a pressão é muito baixa e a espessura da camada de alumínio obtida é da ordem de 1/1000 do mm. Riedel mantém desde 1990, em Belo Horizonte uma câmara de vácuo com capacidade para espelhos até 400 mm de diâmetro. Os espelhos dos grandes telescópios refletores utilizados pelos astrônomos profissionais necessitam ser realuminizado periodicamente.

O professor afirma ter gasto com as invenções todo o dinheiro da venda de sete imóveis. Hoje ele tem cinco funcionários e se prepara para montar, na laje do galpão, um centro de observação celeste aberto ao público. Ninguém sabe quando ficará pronto. Ele tenta acionar amigos e clientes em busca de investimento para aumentar a produção de sua fábrica. Os telescópios da B. Riedel custam entre R$ 690 e R$ 2,6 mil, dependendo de tamanho, sofisticação e acessórios. No ano passado, Riedel se aposentou como professor da Universidade Federal de Minas Gerais. A burocracia e a falta de recursos, segundo ele, empurram os espíritos criadores para fora do País.

Fonte: http://www.terra.com.br/istoe/1615/ciencia/1615genio_sucata.htm

http://www.telescopios.com.br/conhec.html

http://www.iae.cta.br/Naee/palestra13.htm

Acesso em outubro de 2002

http://www.telescopios.com.br/

Acesso em junho de 2005

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