Estudo realizado pela pesquisadora Raquel Valério de Souza Florêncio, do Instituto de Geociências da USP, mostra que os resíduos das indústrias alimentícias de óleos, manteigas e margarinas podem ser incorporados à cerâmica de barro vermelho para a fabricação de tijolos. A proposta daria um fim ecológico às substâncias hoje descartadas em aterros sanitários. O trabalho da pesquisadora comprova que o custo da fabricação de tijolos seria reduzido com a utilização da matéria prima alternativa. “O descarte desses resíduos em aterros impermeabiliza e suja o solo com conseqüente contaminação de aqüíferos por materiais de natureza orgânica e inorgânica”, explica Raquel. Segundo a pesquisadora, o ideal é que os resíduos integrem 1% da composição dos tijolos. Raquel diz que a produção de uma olaria de porte médio seria mais do que suficiente para absorver o lixo derivado da agroindústria paulista. Uma fábrica média de cerâmica produz 12 mil toneladas por mês de tijolos. As 120 toneladas de resíduos são exatamente 1% desse total.
O óleo presente nos resíduos das indústrias alimentícias em aterros sanitários forma uma camada impermeável no solo, dificultando o ciclo natural das águas e do ar. Causam poluição visual e são de fácil combustão. “Os resíduos industriais têm sido um estorvo para os empresários, preocupação para a Cetesb e causa de desajuste ambiental para todos” diz. Segundo Raquel, quando se faz a incorporação dos resíduos à massa do tijolo, a qualidade final do material per-manece inalterada. Diminui-se apenas a sua resistência mecânica, o que não prejudica a segurança de uma construção.
Ao ser incorporado o resíduo na cerâmica de fabricação de tijolos, os componentes prejudiciais ao meio ambiente são neutralizados, garante a pesquisadora. A proporção utilizada nos tijolos dependerá da matéria-prima básica da argila e do tipo de resíduo. Em cada argila e em cada tipo de resíduo deve ser feito um estudo básico de caracterização, quando deverão ser decididas as porcentagens de incorporação.
Os resíduos industriais surgem do processo de beneficiamento ou clareamento dos óleos comestíveis. Eles são compostos por argilominerais, óleos, impurezas das sementes e de metais pesados. O processo de clareamento dos óleos é feito por meio de filtração com a argila bentonita ácida, para eliminar dos óleos o mau cheiro e a cor escurecida, que vem da clorofila, do caroteno, dos carotenóides e de outras substancias derivadas do próprio processo de extração.
No clareamento da margarina, há uma preocupação subjacente: para o preparo desse produto utiliza-se o níquel como catalisador para aumentar a velocidade da reação. Segundo a pesquisadora, o material pesado fica retido somente nos resíduos industriais, descartando a possibilidade de contaminação da marga-rina. “O Hidrogel (Sílica Amorfa), utili-zado nessa fase, leva o Níquel para os resíduos”. Além do Níquel, foram encon-trados nos resíduos, em menores proporções, o Chumbo e o Enxofre.
Raquel Florêncio fez o teste da produção dos tijolos a partir de matérias-primas argilosas do subgrupo Itararé. Segundo ela, a incorporação dos resíduos à cerâmica não compromete a qualidade dos tijolos. Foi detectado apenas um pequeno aumento da porosidade e uma ligeira diminuição na resistência mecânica do tijolo, de cerca de 5%. “Isso não significa que ele seja frágil; é um tijolo de qualidade”, garante a pesquisadora. Segundo ela, apesar da perda de resistência, os valores obtidos para resistência mecânica dos tijolos reciclados são superiores aos limites estabelecidos pelas normas técnicas.
Fonte:
http://www.usp.br/agenciausp/bols/2000/rede547.htm
http://www.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n127.htm
Jornal do Brasil 28.08.2000 página 10 (Ciência)
acesso em janeiro de 2002
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