A eficácia das vacinas de DNA pode ser otimizada se o material genético for revestido por microesferas biodegradáveis que protegem-no e liberam-no de forma gradual nas células do organismo vacinado. O procedimento, recentemente desenvolvido pela equipe do professor José Maciel Rodrigues Jr., da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), já foi testado com sucesso em ratos. Vacinas de DNA são produzidas a partir do material genético de um microorganismo. Uma vez inoculados, os genes induzem a síntese de antígenos, proteínas ligadas à produção de anticorpos contra os microorganismos.
No entanto, a perda de DNA pode comprometer a imunização. O material genético dos microorganismos é pouco estável no núcleo da célula humana, devido ao tamanho da molécula de DNA e à repulsão existente entre as cargas negativas da membrana da célula e do DNA. Se o material genético não se integrar à célula, não haverá produção de anticorpos. Para facilitar a entrada do DNA na célula, são utilizadas em geral partículas virais e lipossomas, mas há reações adversas. No caso das partículas virais, o risco está na toxicidade dos vírus, que podem se integrar à célula: “Vacinas com vírus já causaram até morte”, conta Rodrigues.
As microesferas que revestem o DNA são feitas de um polímero formado por moléculas de ácido láctico e ácido glicólico. Essas substâncias são biocompatíveis com as membranas celulares, pois são produzidas pelo organismo humano. “Como não há perda de material genético, a imunização está garantida”, assegura Rodrigues. As microesferas não são tóxicas e liberam o material genético de forma gradual, o que garante a produção contínua de antígenos e anticorpos. A quantidade de cada substância nas microesferas determina o ritmo da liberação do DNA. Quando há cinqüenta por cento de cada, a degradação do polímero é mais rápida, e o material genético é liberado logo. Uma degradação a nível intermediário pode ser obtida com 75% de ácido láctico. Quando apenas essa substância compõe o polímero, sua degradação é lenta.
O revestimento para o DNA foi elaborado a partir de uma vacina contra a tuberculose desenvolvida pelo imunologista Célio Silva, da Universidade de São Paulo (USP). A vacina contém DNA da bactéria Mycobacterium leprae, que causa a lepra, mas tem seqüências genéticas muito próximas às da bactéria causadora da tuberculose (Mycobacterium tuberculosis). Ambas apresentam respostas imunológicas semelhantes. O gene da M. leprae induz a síntese da proteína Hsp65, que provoca a produção do interferon gama, proteína relacionada à proteção do organismo contra a tuberculose.
Jose Maciel Rodrigues Junior possui graduação em FARMACIA pela Universidade Federal de Minas Gerais – Habilitação Indústria pela Faculdade de Farmácia (1987), mestrado em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1991) e doutorado em Ciências Farmacêuticas (Tecnologia Farmacêutica) – Universite de Paris XI (Paris-Sud) (1995). Professor Adjunto da Universidade Federal de Minas Gerais (1996-2001) e Diretor da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica da UFMG (1998 a 2001). Sócio Fundador e Diretor Presidente da Nanocore Biotecnologia S/A. Coordenador de diversos projetos financiados pelas agências FAPEMIG, FAPESP, CNPq e FINEP. Coordenador da área de Nanomedicamentos do Instituto de Nanotecnologia (Instituto do Milênio). Membro titular do Conselho Superior de Competitividade Tecnológica da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP 2007-2008). Tem experiência na área de Farmácia, com ênfase em Tecnologia Farmacêutica, atuando principalmente nos seguintes temas: nanotecnologia, biotecnologia, engenharia genética, DNA recombinante, sistemas de liberação controlada e P&D de medicamentos e vacinas.
Fonte: http://www.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n145.htm
acesso em dezembro de 2001
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv. jsp?id=K4785098U6
http://www.nanocore.com.br/
acesso em outubro de 2009