Foi lançado o primeiro clone apomictica da mandioca em toda história mundial desta cultura, a clone está em pleno cultivo pelos agricultores o Distrito federal, Tocantins e Goiás. A produção deste híbrido apomictico foi uma consequência da transferência de genes de espécies silvestres. Os híbridos interespecíficos da mandioca produzidos pelo pesquisador foram obtidos do International Institute of Tropical Agriculture (IITA), e usados em processo de melhoramento da mandioca, conduzindo toda região do oeste da África ao ranking de maior produtor mundial de mandioca, razão pelo qual Mohammed foi nomeado pelo Centro Internacional de Desenvolvimento Científico do Canadá (IDRC) para receber a medalha e premiação pela OEA em pesquisas agrárias.
O trabalho do pesquisador egípicio naturalizado brasileiro Nagib Nassar, bolsista do CNPq desde 1982, só despertou a atenção das autoridades brasileiras há mais ou menos três anos. Mas em alguns países da África, continente onde nasceu e cresceu, é, já há algum tempo, um fator revolucionário na dieta. Nassar desenvolveu, cruzando espécies silvestres com outras mais comuns, uma super mandioca, com uma concentração maior de proteínas e maior produtividade por hectare plantado. O cruzamento do cientista ajudou vários países africanos a combater a fome em seus territórios e transformou a Nigéria no maior produtor mundial da raiz. Em reconhecimento ao sucesso no desenvolvimento do novo híbrido, Nassar foi novamente indicado em 2002 ao internacional ‘Prêmio Mundial para a Alimentação’ (World Food Prize), um estímulo de US$ 250 mil, destinado a pesquisadores e ações que tenham ajudado a diminuir o problema da fome no globo. Essa é a quinta vez que ele concorre ao prêmio, indicado pelo canadense Centro Internacional de Pesquisa em Desenvolvimento. Nassar não acredita que ganhará o prêmio esse ano (“é uma decisão que envolve muita política”), mas se diz contente de ter seu trabalho lembrado. E, encarnando o ideal do cientista somente preocupado com sua pesquisa, afirma: “se eu ganhar, não ficarei com nada do prêmio, vou criar um fundo, para ajudar meus colegas pesquisadores”. O agrônomo e PhD em genética Nagib Nassar, começou suas pesquisas sobre a mandioca ainda em seu país de origem e, em 1974, participando de um convênio firmado entre os governos brasileiro e egípcio, veio para cá, percorrer o interior e coletar amostras silvestres da planta. Sem muito apoio – recebeu apenas US$ 1 mil para realizar três meses de coleta – passou por diversas dificuldades: “Eu pedia carona, pegava ônibus e até bicicleta para fazer a coleta Cheguei a correr risco de vida, com cobras e assaltos”, diz. Mas, ao final, conseguiu coletar cerca de 40 diferentes espécies de mandioca e começar uma coleção, que hoje conta com espécies provavelmente já extintas em seu hábitat natural.
Nagib continuou suas pesquisas no Brasil em diversas instituições acadêmicas de pesquisa e, em 1980, fixou suas atividades na Universidade de Brasília (UnB). Como pesquisador vinculado ao CNPq desenvolveu a nova variedade de espécie em 1986. “Sempre acreditei no cruzamento de espécies selvagens com comuns para alcançar a melhoria genética. Mas quando consegui dobrar a porcentagem de proteína da mandioca na primeira geração de um cruzamento, não acreditei”, diz ele, ao explicar que repetiu por cinco anos seguidos os testes antes de acreditar nos resultados do seu experimento.
Em quase 30 anos pesquisando a raiz, o cientista publicou 52 artigos em importantes periódicos internacionais e detém hoje uma média de dois novos textos a cada ano. A variedade desenvolvida por Nagib Nassar contém 4 % de proteína, frente ao 1,5% aproximado de variedades comuns. Além disso, apresenta produtividade por hectare plantado maior que de outras espécies comuns e baixo teor de ácido cianídrico, substância venenosa encontrada em grandes quantidades em espécies silvestres. “Como venho do Egito, tinha uma grande sensibilidade para a fome que devastava a África. Por isso, tenho satisfação psicológica e pessoal, não só científica, em desenvolver híbridos e enviar para a África”, afirma. Em todos os países em que é produzida, a mandioca é consumida inteiramente pelo mercado interno.
Entretanto, sua criação não recebeu a devida atenção do governo ou dos produtores brasileiros. Mesmo sendo a mandioca uma espécie originalmente brasileira, somente há três anos a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em sua unidade da Bahia, começou a explorar o produto. Reações diferentes tiveram diversos governos africanos. Gana, Camarões e Congo foram algumas nações a adotar a variedade de mandioca como base de sua alimentação, complementada por outras fontes de proteína. A Nigéria, entretanto, foi a que mais investiu e melhor utilizou o potencial da descoberta: hoje é a maior produtora mundial da raiz, com cerca de 24 milhões de toneladas produzidas a cada ano. Além de ter aumentado a produtividade utilizando a variedade desenvolvida por Nagib, o governo local também incentivou os produtores a aumentar a área cultivada com a raiz. O Brasil produz cerca de 22 milhões de toneladas por ano.
Fonte:
http://www.cnpq.br/gpesq2/garea5/apg501/reg_co/uf_df/i_unb/g_2709/gp2709.htm
http://www.spl.unb.br/spl/dados/anuario1998/dados_gerais/premios.htm
acesso em abril de 2002
http://www.geneconserve.pro.br
http://www.cnpq.br/noticias/010802.htm
acesso em agosto de 2002
http://www.geneconserve.pro.br
acesso em março de 2003
Cronologia do Desenvolvimento Científico e Tecnológico Brasileiro, 1950-200, MDIC, Brasília, 2002, páginas 286
Agradeço ao inventor prof. Nassar ([email protected]) pelo envio de sua foto em março de 2003 para composição desta página