O inventor brasiliense Bernardo Yuri Beresnitzky criou em fevereiro de 1999 um triciclo com sistema de catraca e pedais que permite que as pernas ficam na posição horizontal. O veículo une os princípios de quatro esportes, ciclismo, windsurf, kart e jet-ski. Tudo numa máquina que, segundo ele, permite o equilíbrio perfeito, além de proporcionar emoção, diversão e atividade física. Chamado de Three Wheels (3W), nome que em inglês significa três rodas, o triciclo é testado em deficientes físicos pelo professor de educação física, especializado em biomecânica, Ulisses de Araújo, que afirma que o triciclo é ideal para pessoas com disfunção numa das pernas. Isso permite que atletas assim pratiquem o triatlon, competição que inclui natação, corrida e bicicleta.
Como não tem formação em engenharia para planejar e desenhar máquinas, Bernardo Yuri Beresnitzky procurou profissionais que validassem sua invenção. O professor de educação física, especializado em biomecânica, Ulisses de Araújo, foi um deles. Presidente da Associação Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Catefe). Araújo trabalha com a atividade física dirigida, ou seja, aquela adequada ao biotipo de cada pessoa, levando-se em conta sua condição clínica e potencial físico.
Ele conta que se interessou em testar o 3w ao ver pessoas andando no triciclo no Parque da Cidade, em Brasília, uma área própria para a prática de esportes e lazer. “No mesmo instante vi que aquele tipo de triciclo, era uma oportunidade para que deficientes físicos com disfunção numa das pernas pudessem praticar o triatlon”, relata. O princípio da gravidade, respeitado na máquina, foi o primeiro fator que chamou a atenção de Araújo. “Numa cadeira de rodas, mesmo aquela para competição esportiva, exige-se muito dos membros superiores (braços) do indivíduo, aumentando a vascularização e ação cardíaca. Os membros inferiores (pernas) ficam como que apáticos e, depois da competição, é sempre preciso exercitá-los”, explica.
Como o triciclo exige que se exercitem as pernas, a ação cardíaca não é tão alta. Outra vantagem apontada pelo professor é a posição horizontal em que fica a perna, o que não exige tanto esforço. Na bicicleta, o esforço para pedalar é maior porque os membros inferiores fazem força contra a ação da gravidade. No caso do triciclo, isso não ocorre porque o esforço de pedalar é realizado na horizontal, com a coluna ereta. “Além disso, há um trabalho tradicional do abdômen pelo fato das pernas se movimentarem em direção a ele. É como uma abdominal”, acrescenta.
Deficientes com disfunção em cada uma das pernas, seja por paralisia ou atrofia muscular, testaram o equipamento e, segundo Araújo, todos relataram que o movimento do 3w é o mesmo que eles fazem com a cadeira de rodas. “Eles contam que a vantagem é que o esforço para girar fica no quadril e não mais nos braços”. Além do mais, o fato de não obrigar a pessoa, em primeiro lugar, a aprender a se equilibrar na máquina, como é o caso da bicicleta, oferece mais segurança ao deficiente físico. Junto com o inventor, Araújo vem pesquisando sobre as características biomecânicas do 3w, de forma a conferir ao equipamento maior funcionalidade. “Como idealizei a máquina pensando em atender a todas as pessoas, indiscriminadamente, quero que seja possível também adaptá-la para deficientes que não movimentam nenhuma das pernas”, diz Yuri. De acordo com Araújo, os estudos para adaptar a catraca e os pedais de forma que possam ser movimentados pelas mãos, estão em andamento. Como está até agora, o 3w assim mesmo pode ser manobrado por deficientes que têm lesões de poliomielite e com perda funcional em um dos membros inferiores.
A ideia, agora, é apresentar a proposta de incluir o triatlon como modalidade para deficientes físicos ao Comitê Internacional de Desporto Parafísico, assim que o 3w estiver totalmente adaptado. Até agora, deficientes praticam somente o duatlon, com as modalidades de natação e atletismo. Não se pratica o ciclismo porque a cadeira de rodas não tem catracas e não configura a modalidade. Com o 3w, os para-atletas estariam praticando também ciclismo. Como professor de educação física, Araújo considera a análise do efeito fisioterápico precipitada no momento. “O veículo em si não é um meio de reabilitação”, afirma. Mas, ele observa que qualquer estímulo à pratica de exercícios tem que ser avaliada positivamente. “Qualquer exercício baseado em estudos faz bem, basta que consideremos a condição clínica da pessoa, ou seja, se sua saúde é compatível com o exercício que quer praticar e também sua condição física”.
A ênfase de Yuri na característica lúdica do 3w, também é defendida por Araújo. Para ele, a máquina é realmente um meio para que as pessoas busquem atividades recreativas, com benefícios à saúde. “Com isso, o 3w pode ser incluído no hábito daqueles que são sedentários e ainda propicia diversão que une a família”, observa. O professor alerta, no entanto, para a necessidade de usar a máquina tomando os devidos cuidados com a segurança. “Basta seguir o exemplo dos ciclistas que usam capacete, luva, pedaleira, cotoveleira. Tem que estar com uma roupa adequada ao movimento e o calçado tem de ser tênis”, aconselha. O propósito ao usar o triciclo, para Araújo, precisa ser bem definido. “Não se deve abusar de sua funcionalidade, andar em excesso poderá prejudicar o ciclista”, adiciona.
Fonte: http://www.radiobras.gov.br/ct/1999/materia_311299_1.htm
acesso em abril de 2003
http://www.radiobras.com.br/ct/1999/materia_190299_2.htm
acesso em fevereiro de 2007