O lançamento ao mar do submarino Tamoio (S32) em 1993 pelo Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) teve um significado histórico para a Marinha, representando um importante marco tecnológico conquistado pela Engenharia Naval Brasileira, graças ao esforço, dedicação e competência de seus engenheiros, técnicos e profissionais especializados. A construção de submarinos no Brasil representa a realização de uma antiga aspiração da Marinha, por seu importante valor estratégico.
A obtenção de novos submarinos foi incluída inicialmente no Programa de Reaparelhamento da Marinha (PRM) Revisão 1979. A partir de então se iniciaram os estudos para a determinação do tipo de submarino a ser adquirido, que resultaram, após avaliação das alternativas existentes, na seleção do submarino IKL-209-1400 de origem alemã, projetado pela firma Ingenieur Kontor Lubeck (IKL), como sendo aquele que melhor atendia tanto ao perfil de operação desejado como a evolução tecnológica planejada.
Em 1982 a Marinha assinou dois contratos técnicos com o Consórcio Ferrostaal/Howaldtswerke Deutsche Werft (HDW) da Alemanha que previam a construção de dois submarinos idênticos, o primeiro no estaleiro HDW em Kiel e o segundo no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro. Em 1984, após a conclusão das negociações referentes à parte financeira dos contratos, estes se tornaram efetivos, iniciando-se assim, neste mesmo ano a construção do submarino Tupi (S30) na Alemanha. Posteriormente, em 1985, foi assinado um terceiro contrato para a obtenção de mais dois submarinos, que igualmente seriam construídos no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, então indicado pela Marinha, como o estaleiro construtor no Brasil.
Durante o período de construção do submarino Tupi no estaleiro HDW, foi possível acompanhar as principais etapas da construção e adquirir os conhecimentos técnicos necessários à realização e construção no Brasil. O Arsenal, cujas atividades industriais se iniciaram na Ilha das Cobras em 1935, nunca havia sentido a necessidade de realizar alterações de vulto em suas instalações. A construção dos submarinos exigiu, pela primeira vez, a modificação da arquitetura de um de seus edifícios. Para a construção de uma moderna oficina onde as seções do submarino pudessem ser montadas, foi necessário que parte do prédio que abrigava a antiga carpintaria do Arsenal fosse implodida, para que no seu lugar fosse construído o prédio hoje existente, que agrega uma extensa área de montagem servida com possantes pontes rolantes, além de oficinas de estrutura, redes, máquinas, solda e eletricidade.
A tecnologia de construção do casco resistente, absorvida pela Marinha no estaleiro HDW, foi implantada na NUCLEP em 1986. A NUCLEP foi criada em 16 de dezembro de 1975, com o objetivo de fabricar componentes pesados do circuito primário para usinas nucleoelétricas. Foi uma decisão estratégica para o Brasil, que até então não possuía nenhuma empresa com estrutura física e tecnológica capaz de atuar nessa área. Isto só pode ser viabilizado através da participação conjunta do pessoal técnico daquela empresa com o pessoal técnico da Marinha que havia sido treinado na Alemanha. A fabricação do casco resistente na NUCLEP já foi integralmente concluída para os três submarinos (Tamoio, Timbira e Tapajós), tendo sido o transporte destas peças para o Arsenal realizado por via marítima. O transporte rodoviário mostrou-se inviável devido ao tamanho das peças, que não teriam como passar sob inúmeras pontes e viadutos.
Enquanto a NUCLEP fabricava o casco resistente, o Arsenal se dedicava à fabricação dos demais componentes do submarino. Dentre estes podemos destacar o casco não resistente na proa e na popa, a estrutura interna das seções, a superestrutura do casco, a vela, os lemes e demais acessórios do casco, as bases intermediárias e jazentes de equipamentos, as válvulas de casco e dos sistemas de circulação de água salgada, as peças de penetração do casco resistente, as tubulações e um sem número de outros itens componentes de um complexo sistema que é o submarino. Em outubro de 1992, os cascos de três submarinos foram embarcados para o Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, através do Terminal Portuário da NUCLEP.
Durante a fase de preparação do Arsenal também foi identificada a necessidade da construção de um Dique Flutuante, para onde fosse possível, na fase final da construção, transportar as seções do submarino, para a união final por solda e lançamento. Este Dique inteiramente projetado e construído no Arsenal, recebeu o nome de seu ex-Diretor Alte. Hugo Friedrich Schieck Junior, que desde a primeira hora da discussão do assunto, defendeu a tese de que a construção de submarinos no país, em especial no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, era possível. A construção do submarino é realizada pelo processo de acabamento avançado, sendo o seu casco dividido em quatro seções fabricadas separadamente. Após a conclusão final da montagem destas quatro seções, já totalmente prontas e com peso máximo de 320 toneladas, foram elas transportadas para o Dique Flutuante Alte. Schieck. No Dique Flutuante foi realizada a união destas partes e o acabamento dos sistemas, ficando o submarino então, pronto para ser lançado e iniciar os testes de cais e mar.
No dia do lançamento, um submarino encontra-se num estágio bastante adiantado da construção, podendo ser posto em contato com o mar, seu habitat natural, nesta primeira flutuação com total segurança. As baterias encontram-se ativadas e embarcadas, os quadros elétricos energizados, estação hidráulica em operação, bombas de esgoto e compressores prontos para funcionar em caso de necessidade, ampolas de ar de alta pressão carregadas, conversores operando e alimentando as cargas de bordo e grande parte dos sistemas já testados. O lançamento ao mar é necessário porque os testes dos equipamentos ligados ao sistema da propulsão exigem que o submarino esteja flutuando para que possam ser executados. Na fase da obra seguinte são realizados o alinhamento do sistema de armas, as provas de cais de todos os equipamentos de bordo, os testes dos equipamentos de segurança e navegação e finalmente as provas de mar, onde podem ser comprovados os atendimentos de todos os requisitos operacionais e de desempenho do submarino.
Fonte:
http://www.nuclep.gov.br/a_nuclep.htm
http://www.nuclep.gov.br/produtos.htm
http://www.virtualand.net/naval/dossie/subbrasil/dossie03.htm
http://geocities.yahoo.com.br/shipbuildingbr/s_tamoio_s31.htm
http://www.naviosdeguerrabrasileiros.hpg.ig.com.br/T/Tamoio-S31.htm
Acesso em novembro de 2002