Segundo dados do governo federal, atualmente 15% dos pacientes internados no Brasil contraem algum tipo de infecção hospitalar, mas existem casos que podem ser evitados. De acordo com o Projeto SENIC (Study on the Efficacy of Nosocomial Infection Control) desenvolvido pelo CDC (Centers for Disease Control and Prevention) de Atlanta, nos Estados Unidos e experiência de hospitais brasileiros, 30% das infecções hospitalares podem ser prevenidas pelas ações de Controle de Infecção Hospitalar (CIH). Para combater esse problema, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul desenvolveu um soro que combate cerca de 80% dos casos de infecções hospitalares conhecidas no Brasil e a expectativa é de que o soro esteja no mercado já no primeiro semestre deste ano. Desenvolvido por uma equipe do Departamento de Biologia e Biotecnologia Molecular da UFRS, o soro gênico é aplicado por via intradérmica.O soro pode combater especialmente os microorganismos Staphylococcus aureus resistentes à meticilina e os enterococos, tidos como os principais agentes de infecções hospitalares no mundo.
Sua produção é semelhante a da obtenção dos soros antiofídico e antitetânico, ou seja, usando o cavalo como base. O coordenador da pesquisa, o geneticista Diógenes Santiago dos Santos, conseguiu chegar à produção deste soro por meio da técnica do DNA recombinante. Obteve-se um plasmídeo, vetor do DNA, que foi inoculado em camundongos. Os testes realizados com cobaias mostraram eficiência de 100%.”O soro será uma opção eficaz no controle dos estafilococos e dos enterococos que cada vez se tornam mais resistentes”, disse. Em dezembro último, Santos esteve em Brasília onde solicitou autorização do Ministério da Saúde para que médicos credenciados realizem os primeiros testes com o produto. Financiada pelo Ministério da Saúde, a pesquisa consumiu R$ 1,2 milhão e, assim que entrar no mercado, cada dose do soro gênico será comercializada entre R$ 10,00 e R$ 15,00.
Como não havia total segurança sobre o método – “O FDA (Food and Drug Administration, o órgão público que fiscaliza a fabricação de medicamentos nos Estados Unidos) ainda não liberou vacinas gênicas”, observou -, partiu-se de uma base sofisticada para agregá-la a uma tecnologia usada e aprovada há 107 anos, a da obtenção de imunizantes por meio do plasma de cavalos. O mesmo composto inoculado em camundongos foi aplicado em eqüinos com bons resultados. O organismo dos cavalos reagiu e produziu grande quantidade de anticorpos. Retirou-se seu plasma, que, filtrado e purificado, foi reaplicado em camundongos com ótima resposta, segundo Santos. “Com 40 cavalos, produz-se soro suficiente para todo o Brasil”, afirmou. A infecção recuou nos roedores inoculados e não atingiu aqueles que, preventivamente, haviam recebido a droga. Acredita-se que o soro gênico será uma opção bem mais eficaz contra os estafilococos e os enterococos, cada vez mais resistentes aos antibióticos. Tanto que os estafilococos já demonstraram suportar o ataque da vancomicina, a mais poderosa droga desse arsenal. Cada dose de vancomicina custa R$ 60,00 e o paciente deve tomar 26 delas. Não há drogas capaz de eliminá-los com segurança.
O secretário Adão Villaverde ressaltou que os resultados apresentados pelo professor Diógenes comprovam que é fundamental a participação do Estado, especialmente em programas de longa maturação. “Mais do que uma simples alternativa, o soro gênico pode se transformar em um novo caminho para reduzir as infecções hospitalares”, afirma, lembrando que esta pesquisa apresentou dois resultados inovadores, que são a eficácia do medicamento e a redução de custos. O diretor-presidente da Fapergs, Renato Oliveira, destacou que esta abordagem de pesquisas biomédicas deverá abrir novas possibilidades de desenvolvimento de produtos para o tratamento de doenças. “Esta pesquisa do soro gênico é importante porque o produto que ela gera mostra novas formas de combater bactérias que já estão resistentes a antibióticos poderosos e tradicionais”, afirma Oliveira.
O projeto, que conta com recursos da Fapergs, Fundo Nacional da Saúde, do Ministério da Saúde, FINEP, além da parceria com o Instituto Butantã, prevê a produção de um soro, tendo o cavalo como base, em idêntico procedimento científico dos soros antiofídicos e antitetânicos, que será utilizado contra o Staphylococcus aureus meticilina resistente (S. aureus mecA) e Enterococos, dois grandes agentes da infecção hospitalar no País e no mundo. O professor Diógenes afirma que, com dez cavalos, consegue produzir todo soro gênico que o Brasil necessita. O soro não possui efeitos colaterais e é efetivo com dose única, tendo aplicação intradérmica e atuando no combate à doença. A dose do soro gênico custa de R$ 10 reais, e será repassada ao SUS a preço de custo. O professor lembrou que a FINEP já disponibilizou recursos de R$ 580 mil para começarem as aplicações clínicas em seres humanos. Ainda nesta semana, ele deverá se encontrar com representantes do Ministério da Saúde para analisar o protocolo de uso do soro em seres humanos. Até agora, todos os testes feitos em cobaias tiveram eficiência de 100%. Estudo realizado em pacientes do SUS demonstra que a infecção hospitalar causada por este tipo de estafilococo responde por 90% dos casos de infecção em alguns hospitais. Segundo o professor Diógenes, “as infecções hospitalares representam atualmente um grande problema de saúde pública.
Outra vantagem do soro gênico é que ele, além de auxiliar no tratamento das infecções, irá reduzir os custos hospitalares. Levantamento feito pelo professor Diógenes em hospital de Porto Alegre, demonstra que os custos com um paciente infectado por Staphylococcus aureus aumentam devido à extensão da internação e também ao custo da Vancomicina, em torno de R$ 60,00 a dose. Este valor ainda deve ser multiplicado por 26, já que o tratamento inclui duas doses diárias, por 13 dias. O próximo trabalho do professor Diógenes Santos será o desenvolvimento de uma vacina contra a tuberculose, utilizando a mesma tecnologia do soro gênico (tecnologia refinada, que envolve o DNA). Segundo ele, a tuberculose mata três milhões de pessoas por ano no mundo, podendo chegar em 2015, segundo previsões, a 38 milhões de vítimas (população aproximada da Argentina). Ele ressaltou que as indústrias farmacêuticas não têm demonstrado interesse em investir em vacinas contra a tuberculose, exemplificando que, neste ano, foram destinados apenas US$ 500 milhões em pesquisas para vacinas contra a tuberculose e, por outro lado, US$ 5 bilhões para o Viagra e US$ 8 bilhões para o Prozac.
Fonte: http://corporativo.bibliomed.com.br/lib/ShowDoc. cfm?LibDocID=189&ReturnCatID=24#Gaúcho%20Desenvolve%20Soro%20Para%20Combater%20Infecção%20Hospitalar
http://www.genexis.com/detalheM16.asp?comunidade=hospitais
http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2000/12/07/ger076.html (cache Google)
http://www.fapergs.tche.br/_inf0008.htm
http://br.groups.yahoo.com/group/lesaomedular/message/186?source=1
http://www.ifi.unicamp.br/jornal-da-ciencia/msg00626.html
acesso em dezembro de 2003