A Ipeca é um ótimo auxiliar no tratamento de doenças do aparelho respiratório. Funciona como um perfeito expectorante. A emetina, uma substância eficaz ao provocar vômitos, ainda é capaz de promover uma efetiva limpeza do aparelho digestivo. Dessa forma, é indicada no tratamento de amebíases, leishmanioses, doenças do pulmão e dos brônquios. É encontrada nas regiões Centro-Oeste e Norte, especialmente Mato Grosso e Acre. Planta perene, seu princípio ativo se encontra na raiz. A ipeca, ou ipecacuanha, é um arbusto reto com cerca de 45 cm de altura. Suas raízes são aneladas e chegam a ter de 20 a 40 cm de comprimento. De sua raiz são extraídos vários alcalóides, como a emetina, de grande utilização na indústria farmacêutica. O uso da ipeca para fins medicinais é muito antigo, sendo usada há centenas de anos no tratamento das infecções intestinais, da coqueluche e da bronquite. Na década de 80, o seu principal alcalóide, a emetina, foi introduzido na forma de cloridrato, entre os medicamentos utilizados contra o câncer, o que aumentou muito o interesse pela planta. A extração sem reposição tem diminuído sensivelmente a oferta desse vegetal na natureza. Relacionadas ao gênero Psychotria e Palicourea, as aproximadamente 180 espécies do gênero Cephaelis são arbustos e pequenas árvores perenes que acontecem em várias partes das regiões tropicais. Muitas espécies são conhecidas por conter alcalóides.
Só Cephaelis ipecacuanha, um arbusto esbelto, perene, com raiz rastejante brilhante, folhas ovaladas pontudas, que cresce sob a copa das florestas tropicais brasileiras, é amplamente cultivado em Cingapura e na Malásia. Frequentemente crescendo debaixo de seringueiras (árvores da borracha). Difícil cultivar fora de seu habitat natural. Exige solo bem escoado, terra rica em húmus com sombra e umidade. Na estação chuvosa aparecem os agrupamentos terminais de flores brancas em formato de trompete, logo seguidas por bagas purpúreas com duas sementes. Ipecacuanha já era conhecida dos nativos brasileiros séculos antes de sua introdução em Portugal por um monge nos tempos coloniais. Um médico Parisiense, Helvetius, experimentou-a e confirmou sua eficácia e aplicação para diversos males, principalmente sua efetividade contra disenteria. Em 1688 vendeu sua patente do medicamento para a corte de Luís XIV por 1.000 luises de ouro. Cephaelis ipecacuanha contém emetina, um potente emético que, como um efeito colateral, estimula secreção de muco nos pulmões. Agora, crescendo no extremo oriente, é ingrediente principal de várias marcas de remédios contra tosse.
As partes usadas são as raízes, colhidas parcialmente no início da primavera, quando as plantas estão em flor, e são secadas para uso pela indústria farmacêutica. É um irritante violento que estimula os sistemas gástricos e bronquiais, abaixa febres e previne formação de cisto em disenteria motivada por amebas. É usada interiormente para tosses, bronquite, tosse aguda, coqueluche e disenteria e amébica. Também usado em xarope para induzir vômito em crianças que ingeriram venenos e quando é preferível ao uso de lavagem estomacal em pessoa muito jovem. Excesso causa vômito severo e diarreia. Usado em homeopatia para náusea.
O contributo dos portugueses para o conhecimento da matéria médica africana e brasileira ficou muito aquém do nível observado no Oriente. A matéria médica do Atlântico meridional despertou inicialmente pouco interesse entre os autores médicos portugueses, devendo-se a maior parte dos contributos para o seu conhecimento a colonos, missionários, militares e viajantes. Até ao século XVIII, além dos textos de leigos, os únicos contributos devem-se a médicos e naturalistas estrangeiros. Na América, pouco depois da descrição de algumas plantas brasileiras por Hans Staden em 1557 e André Thevet em Lez singularitez de la France Antarctique (1558), o jesuíta José de Anchieta, S.J. (1534-1597) escreveu uma relação sobre a matéria médica brasileira, descrevendo a ipecacuanha e outras plantas, numa carta de 1560.
Foi seguido por um leigo, Gabriel Soares de Sousa (c. 1540-1592), senhor de engenho, vereador e bandeirante da Baía. A sua Notícia do Brasil (c. 1587) inclui uma longa secção sobre plantas medicinais e sobre a medicina dos tupinambás. O texto de Soares de Sousa circulou amplamente na forma manuscrita, apesar de só ter sido publicado no início do século XIX. O tratado sobre o Clima e Terra do Brasil de Fernão Cardim (1540-1625) tem igualmente um capítulo sobre ervas medicinais, onde descreve as propriedades de dezena e meia de plantas, entre as quais a ipecacuanha, o jaborandi, a copaíba e outras drogas. As primeiras descrições detalhadas da ipecacuanha devem-se contudo a G. Markgraf (1610-1644) na Historia rerum naturalium Brasiliae e a W. Piso (1611-1644), na Historia naturalis Brasiliae, publicadas juntas em 1648.
Piso esteve no Recife de 1638 a 1644 como médico do Príncipe Johan Maurits van Nassau-Siegen. O interesse pela flora médica brasileira por parte dos jesuítas deveu-se antes de mais a uma necessidade prática. A irregularidade nos fornecimentos de medicamentos levou-os a recorrer às drogas nativas, para manter a funcionar os serviços de saúde. A mais célebre das drogas brasileiras difundidas no século XVII foi a ipecacuanha (Cephaelis ipecacuanha) e a história da sua entrada na literatura e na prática médicas ilustra bem a participação portuguesa no enriquecimento da proto-farmacologia seiscentista. A ação da raiz da ipecacuanha, utilizada pelos índios tupis no Brasil, foi conhecida pelos jesuítas logo no século XVI.
O Padre José de Anchieta descreveu-a na já referida carta de 1560 e o Padre Fernão Cardim tratou igualmente da ipecacuanha no capítulo sobre ervas medicinais do tratado sobre o Clima e Terra do Brasil. O tratado de Fernão Cardim foi publicado em inglês por Samuel Purchas em Hakluytus posthumus (1625), nas condições atrás descritas, dando assim a primeira notícia impressa sobre a ipecacuanha.
No século XVIII as suas virtudes foram confirmadas por Carlo Gianelli (1696-1759) em De admirabili radicis ipecacuanhae virtute (Pádua, 1745), mas persistiram várias confusões e incertezas sobre a verdadeira natureza da raiz até que Bernardino António Gomes, depois de regressar do Brasil, a descreveu na Memória sobre a ipecacuanha fusca do Brasil ou cipó das nossas boticas (Lisboa, 1801), juntamente com a classificação feita por Brotero com base nas suas observações. O esclarecimento da natureza botânica da ipecacuanha veio permitir que Joseph Pelletier e o fisiologista François Magendie, em colaboração, isolassem o seu princípio ativo, a emetina, em 1817.
Fonte: http://www.estado.estadao.com.br/edicao/especial/plantas/jui9.html
acesso em junho de 2002
http://www.professorberti.hpg.ig.com.br/plantasmedicinais/plantcdef.htm
http://www.mre.gov.br/revista/numero02/indama-p.htm
http://www.planete-homeo.org/analyse/echos/mat_med/ipeca.htm
acesso em julho de 2002
Cientistas do Brasil, SBPC, 1998, página 248