“Aparelho Auxiliar para Cirurgia Cardiovascular”

O Dr. Cesar é médico, cirurgião cardiovascular, com formação no INCOR, durante a gestão do Prof. Jatene. Também trabalhou com os Profs. Zerbini e Dr. Bittencourt. Atualmente atua como Prof. Adjunto de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, e Cirurgião Cardiovascular do Hospital Universitário Professor Edgard Santos. Entre outros trabalhos desenvolvidos destacam-se também um Tratamento Cirúrgico do Aparelho Valvar Mitral que Consiste da criação de nova técnica, que realiza a duplicação do folheto posterior mitral como forma de aumentar a superfície de coaptação do aparelho valvar mitral, utilizando o próprio tecido do folheto posterior. O trabalho que consta do acompanhamento dos pacientes operados, foi apresentado em vários congressos nacionais e também em Congresso da Academia de Cardiologia nos Estados Unidos. Outro trabalho desenvolvido é o de Tratamento Cirúrgico da Fibrilação Atrial que Consiste da criação de nova técnica, onde realizo plastia de átrios gigantes em pacientes reumáticos portadores de fibrilação atrial e doença valvular mitral reumática, com mais de 80% de sucesso com o tratamento.

 

Segundo Dr. Mario Cesar “Durante a residência médica no INCOR, os residentes de cirurgia, tinham uma reunião semanal com o Prof. Adib Jatene”. Na época eu era residente de Cirurgia Cardiovascular no INCOR e o Professor Adib gostava de estimular fazendo perguntas sobre possíveis soluções em cirurgia cardiovascular. Desde esta época comecei a ter um olhar mais crítico durante o ato operatório. Aqui em Salvador, a cirurgia valvular é muito comum, e eu achava difícil organizar os fios de forma que pudessem também tracionar o anel mitral ou aórtico e forma a facilitar a exposição durante a operação. Lembrei da existência do anel de Crawford, mas não associei à tração das bordas teciduais e anéis valvulares porque ele era maleável, então não haveria sustentação para exposição no campo operatório. Pensei num anel de material resistente – aço, com superfície plana, com diâmetro compatível com a exposição do campo, além de ser possível colocar o holder da válvula sem a necessidade do ajudante ficar mantendo a prótese em posição e tendo que interromper a apresentação para fixar os fios tracionados com reparos de fixação ao campo cirúrgico.

Então solicitei um favor a um amigo de que conseguisse um anel numa placa de aço com diâmetro aproximado de 28 cm, com superfície do anel onde fosse possível implante de molas distribuídas uniformemente ao redor da circunferência. No tempo livre procurando alguém que me orientasse neste protótipo discuti a situação com meu sogro na época o engenheiro Dr. Luís Lanat Pedreira de Cerqueira. Fomos para o torno e ele me ensinou a fazer molas, a fixá-las na estrutura de aço e a distribuí-las uniformemente no aparelho, fazendo as roscas e colocando reparos de metal com parafusos a cada 15 graus da circunferência. Assim com estas múltiplas funções discutindo com Dr. Luís, vimos que estávamos diante de um aparelho que poderia ser um auxílio importante durante as cirurgias cardiovasculares, principalmente as valvulares.

Comecei a utizá-lo em todas as cirurgias valvares, não só nas trocas valvares, mas nas plastias também; durante a operação colocava pontos de reparo no anel valvular e usando os reparos do aparelho tinha uma ideia de quantos graus diminuiria o anel valvar mitral, durante as plastias valvulares; o aparelho ajudava bastante na exposição do campo operatório permitindo tracionar os anéis valvulares e as bordas do átrio esquerdo, direito e aorta, facilitando muito a exposição do campo operatório, sem ocupar espaço, deixando as mãos do primeiro ajudante e do cirurgião para funções mais importantes. Durante as trocas valvares, por exemplo mitral, coloco pontos de reparo nas bordas do átrio esquerdo e no anel mitral, realizo a ressecção do tecido valvular de forma ao perfeito ajuste da prótese ao anel, realizo a medida do anel mitral, e continuo passando os pontos no anel mitral; vou fixando os mesmos nas molas do anel de forma ordenada, sempre no sentido horário; a ideia consistia também de vários pequenos orifícios que pudessem abrigar as agulhas dos fios, facilitando quando fosse reutilizar as agulhas, com a porta agulha, na passagem na borda de tecido da prótese.

O anel do aparelho valvar fica tracionado e colocado em uma posição fixa, permitindo conforto e cadência à operação, levando a uma diminuição importante do tempo de pinçamento aórtico e operatório. Os fios não enrolam nem trançam, há uma ordenação dos tempos operatórios sem movimentos perdidos. Os fios e agulhas já estão em local certo. Por outro lado o holder da válvula é fixado numa haste de aço em arco onde a prótese é fixada na posição de exposição para a instrumentadora, que após fixar a prótese, o cirurgião gira o arco para a posição adequada à passagem dos fios no anel da prótese, dando uma visão perfeita da disposição dos fios, – o 1o) ajudante deverá apenas manter a prótese em posição – quando vamos descer a prótese para ajustá-la no anel do aparelho valvar. Os tecidos são submetidos a uma tensão uniforme e somente o quanto necessário para permitir a visão do cirurgião. Tive muitas facilidades na utilização durante cirurgias valvares e até mesmo durante a realização de um Bentall de Bonno. Alguns integrantes da equipe utilizavam o aparelho. Eu pessoalmente passei a utilizá-lo de forma sistemática, diminuindo muito o tempo de pinçamento aórtico durante a troca valvar mitral – cirurgia mais comum entre nós. Meu tempo médio era por volta de 30 a 40 minutos de pinçamento, com o aparelho e com anatomia favorável, além de integrantes da equipe já também treinados passei a ter tempo de pinçamento de 12 minutos como mínimo e no máximo 18 a 20 minutos. Várias vezes o tempo total da cirurgia de TVM ficava em torno de 1 hora e 20 minutos a 1 hora e 40 minutos. “Alguns colegas viram a apresentação durante o Congresso Nacional e revelaram interesse, dentre alguns me lembro do Kubrusly do Paraná, que me pediu um exemplar”.

 

Fonte:

Acesso em abril de 2005

Agradeço a colaboração do inventor Mario Cesar de Abreu ([email protected], [email protected]) pelo envio de material em abril de 2005 e em junho de 2008 para composição desta página.

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