Revestimento de Argamassa com Polipropileno

Pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um novo tipo de revestimento de argamassa com melhores características mecânicas. O motivo é o uso, em sua composição, de fibras sintéticas, feitas de polipropileno. O trabalho é resultado de uma das linhas de pesquisa do Consórcio Setorial para Inovação em Tecnologia de Revestimentos de Argamassa (Consitra), coordenado por pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e da Universidade Federal de Goiás, em parceria com representantes da iniciativa privada.

Os problemas com a aderência da argamassa ao substrato (a base da construção, que pode ser de alvenaria de blocos ou concreto, entre outros materiais) podem causar quedas de partes do revestimento. “Em edifícios de grande altura, essas quedas podem provocar graves acidentes comprometendo a integridade das pessoas ou mesmo provocando danos materiais como em veículos ou outras construções que estejam próximos”, ressalta a professora. Um dos subgrupos do projeto procura entender cientificamente o material argamassa cuja composição se faz usualmente pela junção de areia, cal, cimento, aditivos (produtos químicos como retentores de água, incorporadores de ar, plastificantes, entre outros) e adições como por exemplo, as fibras. 

De acordo com uma das coordenadoras do Consitra, Mércia Barros, professora do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli-USP, o objetivo ao adicionar fibras sintéticas às argamassas foi evitar as fissuras, um dos problemas mais comuns nas fachadas das construções. “De maneira geral, os revestimentos de argamassas disponíveis no mercado, que estão presentes em aproximadamente 90% dos edifícios habitacionais do país, têm um comportamento mecânico frágil que os tornam vulneráveis à deformação e ao rompimento”, disse à Agência FAPESP. “As fibras de polipropileno tornam o revestimento de argamassa mais resistente aos esforços de tração, permitindo que o material não perca aderência e diminuindo o risco de fissuração. Esse tipo de revestimento também pode ser utilizado em áreas úmidas no interior dos edifícios, como banheiro e cozinha”, acrescentou a professora. Os estudos da Poli, que buscaram ainda identificar as características de outras fibras sintéticas que também influenciam na resistência da argamassa, indicam que a adição de fibras resultou em melhorias no comportamento reológico (relativo à deformação da matéria) das argamassas, facilitando sua aplicação.

A argamassa é um compósito formado por aglomerantes, agregados e aditivos. O aglomerante é formado por cimento e cal e o agregado normalmente é composto de areias naturais ou outros materiais artificiais extraídos da britagem de rocha calcária. “As fibras de polipropileno foram introduzidas como um tipo de aditivo, que também podem ser materiais plastificantes e hidrofugantes que melhoram a resistência das argamassas. De acordo com as diretrizes do Consitra, devemos transferir esses resultados o mais rapidamente possível ao setor produtivo, representado pelas construtoras e fabricantes de argamassas”, afirmou Mércia. 

Com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), por meio do Programa de Tecnologia de Habitação (Habitare), o Consitra se concentra no estudo e aprimoramento tecnológico de argamassas utilizadas em construções. O consórcio conta atualmente com cerca de 30 projetos de pesquisa em andamento com foco em problemas tecnológicos que envolvem o revestimento de edifícios, entre os quais estudos sobre aderência, fissuração e manchas provocadas por fungos. Segundo Mércia, além da argamassa com fibras de polipropileno, outra novidade é que as pesquisas do Consitra estão dando origem ao desenvolvimento de normas técnicas junto à Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Um desses padrões normativos auxiliará no conhecimento do que os pesquisadores chamam de “módulo de deformação de argamassas”“Esse padrão é fruto do Consitra e já foi aprovado na ABNT. Trata-se de uma nova norma que deve ser regulamentada em breve e que se refere a um novo método de avaliação de deformabilidade das argamassas”, explicou. Esse tipo de ensaio das taxas de deformação é atualmente realizado, de acordo com a professora da Poli-USP, de forma heterogênea no mercado e a falta de padronização nos testes tem comprometido a confiabilidade dos estudos realizados pelas empresas.“Cada construtora avalia seus produtos de maneira distinta e sem parâmetros de comparação. Com a nova norma da ABNT, que deverá estar em vigor nos próximos meses, todas as empresas deverão seguir uma mesma linha de avaliação, uma vez que no mercado existem diversos tipos de argamassas e as construtoras as usam indiscriminadamente, muitas vezes sem conhecer exatamente o padrão de comportamento do produto”, afirmou. 

A produção dos pesquisadores também é divulgada em publicações técnicas, científicas e congressos. Até outubro do ano passado, foram publicados mais de 40 artigos técnico-científicos pela equipe do consórcio. Em três anos, foram investidos cerca de R$ 1 milhão no projeto, que envolve cerca de 25 pesquisadores da Poli, da Universidade Federal de Goiás (UFG), coordenados pelos professores Wanderley John e Mércia Barros, da Poli, e Helena Carasek, da UFG. A participação das empresas é coordenada pelo engenheiro Fábio Campora, da ABAI. O consórcio também conta com recursos da Fapesp.

Mercia Maria Semensato Bottura de Barros possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal de São Carlos (1985), mestrado em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo (1991) e doutorado em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo (1996). Atualmente é professor doutor da Universidade de São Paulo. É pesquisador da Fundação de Amparo à pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).Tem experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em Gestão da produção e Desenvolvimento e Inovação Tecnológica voltados aos temas vedações e revestimentos. Atua também na área de reabilitação de edifícios com foco para as tecnologias e custos e na capacitação e certificação profissional. 

Fonte: 
http://www.agencia.fapesp.br:80/materia/9206/especiais/paredes-sem-fissuras.htm 
http://www4.usp.br/index.php/tecnologia/45-tecnologia/14877-consorcio-pesquisa-aperfeicoamentos-para-producao-de-argamassa 
http://www.fiepr.org.br/sindicatos/sinduscon_nortepr/News3961content52348.shtml
acesso em agosto de 2008 
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