Sistema Glucoíris

Furar o dedo para medir o nível de glicemia (açúcar) no sangue sempre foi um processo desconfortável, porém necessário para pacientes com diabetes. Pensando numa solução para esse problema, os pesquisadores do Laboratório de Metrologia e Automatização (Lameiro), em parceria com o Instituto de Engenharia Biomédica, ambos da UFSC, estão desenvolvendo um novo sistema, batizado de Sistema Glucoíris, para quantificar o nível de glicose pela análise de imagens da íris ocular. As despesas para os diabéticos, que precisam medir a glicose pelo menos três vezes ao dia, também devem baixar, de acordo com o coordenador da pesquisa, o prof. Armando Albertazzi Gonçalves Júnior.

 

Estima-se que a íris possua cerca de 500 mil terminações nervosas ligadas a todo o corpo humano. Com isso, cientistas alegam que alterações metabólicas, ou situações patológicas em órgãos, podem provocar alterações em características da íris. Partindo desse fato, aliado à importância da medição da glicemia, o projeto Glucoíris foi concebido. Os métodos atuais de medição são confiáveis, porém necessitam de uma gota de sangue (método invasivo) e uma tira reagente, com custo relativamente elevado, a cada medição. Ao contrário dos métodos invasivos, a técnica totalmente não invasiva do Glucoíris, é extremamente importante para motivar o controle regular da glicemia, que é tão necessário aos aproximadamente 150 milhões de diabéticos no mundo.

O Glucoíris funciona com um sistema de iluminação associado a uma câmera fotográfica digital que registra e envia as imagens da íris para o computador, que realiza automaticamente o cálculo da glicemia do paciente, através da leitura da imagem, seleção e extração de parâmetros relativos à coloração de regiões da imagem da íris. Dessa maneira, a medição da glicemia é rápida e indolor. A pesquisa para desenvolver o Glucoíris começou em 1999, quando o físico José Ricardo de Menezes, orientado pelo prof. Armando Albertazzi, iniciou o processo de obtenção de imagens com qualidade razoável a fim de estabelecer as relações entre o nível de glicose no sangue e a coloração da íris. Os resultados dessa primeira pesquisa levantaram novas questões. Uma delas, por exemplo, era saber se havia diferença de resultados causada pela cor da íris (olhos claros ou olhos escuros). As respostas foram detectadas pela pesquisa de mestrado do engenheiro Cesare Pica, que concluiu que a variação realmente existe.

Segundo o prof. Albertazzi, embora essa variação possa dificultar o desenvolvimento de um sistema universal, a ideia é construir um sistema que funcione com os todos os diabéticos. Em 2000, já com a colaboração do engenheiro biomédico Jefferson Brün Marquês, que passou a co-orientar o projeto ao lado de Albertazzi, começou a ser desenvolvida a primeira versão do Glucoíris. O protótipo incluía uma câmera para a captação de imagens e um software responsável pela avaliação das relações entre os níveis de açúcar no sangue e a cor da íris de cada pessoa. Foi nesse estágio que a equipe do Labmetro confirmou que havia mesmo uma relação entre a cor da íris e a variação da glicemia. A segunda fase da pesquisa foi desenvolvida em 2001, com o ingresso do engenheiro eletricista Cesare Quinteiro Pica na equipe do Glucoíris. Esta nova etapa teve como objetivo aprimorar o software e o sistema de captação de imagens, além de determinar a incerteza do sistema de quantificação da taxa de açúcar no sangue através da análise da íris.

O Sistema Glucoíris foi desenvolvido, até agora, com recursos dos próprios laboratórios da UFSC, associados ao projeto. Os pesquisadores estão buscando recursos da iniciativa privada para continuar as pesquisas e construir um protótipo comercial do sistema. Apesar de não haver ainda consenso entre os pesquisadores quanto à forma comercial que o produto vai tomar, o preço estimado do primeiro protótipo é de 1.500 dólares. Para os diabéticos, o novo sistema vai representar mais conforto e autonomia no convívio com a doença, além da redução de gastos. Atualmente, um diabético gasta em torno de 880 dólares anuais, somente com a compra das tiras reagentes para medir a glicemia furando o dedo.

Para garantir a continuidade do projeto por mais dois anos, de acordo com Cesare Pica, seriam necessários aproximadamente R$ 150 mil, valor suficiente para a compra e desenvolvimento de novos equipamentos e para manter a equipe de pesquisadores, que agora conta com a engenheira Vera Machado Codes. Para angariar novos recursos, o Labmetro está fazendo uma campanha de divulgação do projeto junto à iniciativa privada. Antes, porém, o laboratório encaminhou o processo de registro do Glucoíris, para garantir que ninguém se antecipe e acabe se apropriando da ideia e dos resultados obtidos até agora. “A medição da glicemia através da íris é possível, porém é fundamental que consigamos recursos financeiros para o aperfeiçoamento do protótipo e para a realização de mais pesquisas com seres humano, o que vai permitir a validação científica da técnica”, explica Cesare. “abandonar o projeto nesta fase, quando atingimos resultados tão bons, seria um desperdício”, conclui.

Causada pela falta de insulina no organismo, a diabetes atinge atualmente cerca de 150 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença ocorre quando o pâncreas não produz nenhuma insulina ou a produz de maneira insuficiente, o que acaba gerando um aumento da taxa de açúcar no sangue (hiperglicemia), uma vez que esse hormônio é responsável pela absorção da glicose pelas células. O fato de esse açúcar ficar circulando pelo sangue sem ser absorvido causa uma série de prejuízos ao portador da doença, como a degradação de órgãos, podendo até mesmo levar à morte.

 

Fonte: http://www.gpeb.ufsc.br/revista/novembro2001.html

http://www.revistanexus.com.br/idnova2.php?Not=2

Acesso em dezembro de 2002

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