Mineiro nascido em 28 de abril de 1865 (dia de São Vital) na cidade de Campanha, Vital Brazil foi um pioneiro da medicina experimental no Brasil e criou a base da imunológica no país, ao elaborar soros específicos contra picadas de cobras a especificidade antigênica, um dos pilares da imunológia moderna. Já formado, Vital Brazil combateu epidemias de febre amarela, varíola e cólera no interior paulista. Desde 1893, como inspetor sanitário, percorreu o interior do estado, tomando conhecimento das precárias condições de saúde em que vivia a população. Afastou-se do serviço público, estabelecendo-se como clínico em Botucatu, quando, em contato com pacientes picados por cobras, iniciou as primeiras experiências com serpentes peçonhentas. Em 1896, a convite de Adolfo Lutz, iniciou suas pesquisas no Instituto Bacteriológico.
Os primeiros trabalhos de Vital Brazil sobre a especificidade dos soros antipeçonhentos foram realizados no Instituto Bacteriológico em São Paulo, de 1897 a 1899, onde trabalhou como médico assistente do Instituto sob a direção de Adolpho Lutz. Quando nomeado pelo Governo do Estado para instalar e organizar um laboratório na Fazenda Butantan, ai chegou em dezembro de 1899, já levava em sua bagagem seu trabalho sobre o ofidismo. Foi em 1901 a sua primeira conferencia pública sobre o assunto. Até 1904, Vital Brazil nunca havia saído do Brasil. Sua estada na Europa em 1904 foi o premio recebido por sua descoberta sobre a especificidade. Em Paris, realmente freqüentou o Instituto Pasteur, mas nunca trabalhou com Calmette, pois este dirigia o Instituto em Lille. A iniciativa de buscar na soroterapia a solução para o ofidismo foi de Bertrand e Physalix no laboratório do Museu de Historia Natural de Paris e simultaneamente de Albert Calmette no Pasteur de Lille. Ambos conseguiram imunizar animais em laboratório, mas só Calmette foi adiante e produziu o “Soro anti-venimeux” que julgava ser ativo para todo e qualquer envenenamento de origem animal. Foi este o soro testado por Vital Brazil em São Paulo que se mostrou completamente ineficaz contra o veneno das nossas cascavéis e jararacas. Vital Brazil, portanto descobriu a especificidade do soro, percebendo que cada veneno produzia um soro específico, ou seja, o soro obtido a partir do veneno do animal que causa o acidente só neutraliza a ação desse veneno, produzindo em 1901 as primeiras doses de soro antiofídico. Calmette assim se refere à Vital Brasil: “A obra científica de Vital Brazil é absolutamente de primeira ordem. Os seus trabalhos sobre venenos e sobre as soroterapias antivenenosas salvaram milhares de existências. Sinto-me particularmente feliz ao associar-me a homenagem que vos propondes lhe prestar e o Instituto Pasteur de Paris unanimemente partilha os sentimentos de alta estima e admiração que me ligam ao nosso ilustre colega e amigo.”
O nome Butantan, que deu origem ao instituto e ao bairro da zona oeste, significa “terra firme-firme”, em tupi Ibytatá. E fazia parte da sesmaria pertencente a Afonso Sardinha. No local foi construído um dos primeiros engenhos de açúcar da Vila de São Paulo. O local onde foi construído o instituto era uma fazenda. A primeira dose de soro antiofídico, em 1902, foi para o ex-senador Peixoto Gomide, ex-vice-presidente de São Paulo (quatro anos após, ele matou a filha e suicidou-se em seguida). O combate aos venenos de cobra, no início do século, era feito unicamente pelo curandeirismo. Eram cerca de 3 mil casos por ano no Estado, que então tinha 2,3 milhões de habitantes. Nesse mesmo ano ele publicou seu primeiro trabalho sobre o envenenamento ofídico e demonstrou que o soro para o tratamento dos acidentes tinha que ser específico. Também produziu as primeiras ampolas de soro contra o veneno de jararaca e cascavel.
Até hoje não existe tratamento mais eficaz para a picada de cobra. O soro, feito a partir do próprio veneno da serpente, é produzido por meio de um processo complexo. O soro antiofídico na verdade é obtido à partir do sangue do cavalo. Retira-se o veneno da uma serpente peçonhenta por meio de uma extração manual, feita por um técnico experiente. Após a extração, ele é seco e liofilizado (processo de remoção total de água ) para armazenamento, sendo mantido em freezer. Para ser utilizado no processo de produção do soro antiofídico, o veneno recebe solução fisiológica para tornar-se líquido novamente. Antes de ser injetado no cavalo o veneno é diluído ainda mais, ficando menos potente. O cavalo recebe, em intervalos de dias, várias aplicações deste veneno, sendo que a cada aplicação a diluição vai diminuindo, apresentando uma maior concentração, mas nunca 100% da atividade (o que acarretaria danos ao animal).
Fonte:
http://www.terra.com.br/istoe/biblioteca/brasileiro/ciencia/ciencia3.htm
http://www.fapesp.br/memoria50.htm
http://www.bioterium.com.br/bioterium/Novidades/00Novidades.Htm
http://www.estado.estadao.com.br/edicao/pano/00/02/23/cid615.html
acesso em dezembro de 2001
http://www.prossiga.br/vitalbrazil/
acesso em julho de 2002