Pesquisadores brasileiros esperam desde agosto de 2008 para testar em humanos o primeiro soro no mundo capaz de neutralizar veneno de abelha. Só precisam agora que as vítimas se apresentem no Hospital Vital Brasil e no Hospital das Clínicas, ambos em São Paulo. O projeto de produção do soro envolve mais de dez pesquisadores da Unesp, da USP, do Incor e Instituto Butantã e já custou R$ 2 milhões. “Acreditamos que o soro sirva para a maioria das abelhas melíferas do mundo”, disse o bioquímico Mário Palma, da Unesp, coordenador do projeto. Palma explicou que uma única espécie de abelha, a Apis mellifera, predomina em três quartos do planeta. Portanto, se o antídoto passar nos testes, terá exportação garantida. O projeto começou em 2005, depois que um estudo do Ministério da Saúde mostrou que acontecem 10 mil acidentes com abelhas por ano no Brasil.
Várias tentativas de criar um antiveneno de abelha fracassaram no mundo inteiro. O problema, segundo Palma, era que os cientistas usavam métodos desenvolvidos para criar soros contra venenos de cobra, muito diferentes do das abelhas. As serpentes são caçadoras. O veneno de sua mordida impede que as presas fujam logo após o bote. Suas toxinas agem rapidamente, paralisando a circulação do sangue. Já o veneno de vespas e abelhas tem “função mnemônica”. O veneno causa dor e desconforto para que o animal ferroado se lembre de nunca mais chegar perto das colmeias. O efeito imediato da ferroada é o inchaço da ferida, facilmente tratável. Muito piores são os efeitos que podem demorar até um dia para aparecer e que dependem da sensibilidade da vítima e do número de ferroadas. “É uma tortura chinesa”, explicou Palma. “O veneno pode ficar no corpo por até três dias após o ataque. Age nos músculos, causa taquicardia, sudorese e diarreia. A pessoa sente o coração sair do peito, uma dor de cabeça terrível.” Essa “tortura” causa danos permanentes a coração, fígado, nervos e rins, que levam à morte em 1% dos casos. Atualmente, as vítimas fazem hemodiálise ou recebem remédios próprios para problemas de respiração e circulação.
Para criar um antídoto realmente eficaz, a estratégia dos pesquisadores foi analisar, uma por uma, a composição e a estrutura das proteínas do veneno das abelhas. “Antes do trabalho, apenas quatro proteínas do veneno eram conhecidas. Nosso laboratório [na Unesp] identificou mais de 200”, disse Palma. Conhecendo as proteínas que compõem o veneno, os pesquisadores conseguiram verificar quais delas eram neutralizadas pelos soros produzidos pelo Butantã, que então eram modificados até neutralizarem totalmente o veneno. Os soros são feitos de anticorpos produzidos por cavalos inoculados com o veneno. Cada molécula de anticorpo precisa se encaixar numa proteína do veneno, cancelando seu efeito. O Butantã precisou criar uma linhagem nova de cavalos especialmente para o experimento, já que o sistema imunológico dos cavalos usados para produzir soro antiveneno de cobras e aranhas não respondia adequadamente.
Semelhante aos casos de picadas de cobras, aranhas e outros animais venenosos, a vítima de múltiplas picadas de abelhas deve iniciar o tratamento com doses pequenas de soro, cuja ação é sentida assim que atinge corrente sanguínea. O cientista avalia que o soro seja eficaz contra a picada da maioria das abelhas da espécie Apis mellifera pelo fato de estar presente em mais da metade do planeta. Atualmente, por falta de uma medicação adequada, os acidentados são medicadas com corticoides, broncodilatadores, vasodilatadores e hemodiálise, entre outras estratégias terapêuticas. “O veneno pode circular no organismo por até três dias após o ataque”, explica Palma. Nesse período, a vítima pode sentir dor de cabeça, taquicardia, sudorese, diarréia e, em caso extremo, evoluir para o óbito.
A rede de pesquisadores é composta por membros do Centro de Estudos de Insetos Sociais (CEIS), do Instituto de Biociências, campus de Rio Claro; da Fundação Instituto Butantã; da Disciplina de Alergia e Imunologia da Faculdade de Medicina da USP; Laboratório de Imunologia do Instituto de Coração e do Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, também da USP. Os financiamentos foram pagos pela Fapesp, Finep, CNPq e Capes. “A resposta nos testes com ratos e camundongos foi de 100%”, disse Osmar Malaspina, da Unesp. O grupo aguarda agora uma chance de testar o soro em vítimas de picadas múltiplas de abelhas que procuram ajuda nos hospitais. O fim dos testes depende de conseguirem um número mínimo de 30 a 40 vítimas. “Gostaríamos de completar os testes até o fim do ano, mas não posso torcer por isso, seria antiético!” – disse Palma. “Temos prontos 30 litros de soro, o que dá para umas cinco mil doses”, disse Palma. Se o soro passar nos testes, será distribuído pela rede pública de saúde em todo o país.
Fonte: http://integras.blogspot.com/2008/10/brasil-desenvolve-soro-antiveneno-de.html / Folha de S. Paulo Jornalista: IGOR ZOLNERKEVIC
http://www.saopaulo.sp.gov.br/sis/lenoticia.php?id=99570
acesso em outubro de 2008