Vacina contra Mal de Chagas

Uma vacina experimental está sendo desenvolvida na França para combater a doença de Chagas. Ela permite que o organismo infectado pelo protozoário causador da moléstia produza anticorpos específicos contra ela. Normalmente, esse parasita dribla as defesas do organismo e induz a produção de anticorpos incapazes de neutralizar os agentes agressores. O trabalho, desenvolvido por uma equipe do Instituto Pasteur liderada pela brasileira Paola Minoprio, pode abrir novos caminhos para a busca de vacinas contra infecções parasitárias. 

O mal de Chagas é causado pelo protozoário Trypanosoma Cruzi, parasita que penetra no hospedeiro através de fezes do barbeiro e se multiplica no interior de células, podendo destruir o músculo cardíaco e os do sistema digestivo. Ele secreta moléculas chamadas mitogênicas que fazem com que sua presença não seja reconhecida pelos linfócitos (células do sistema imunológico). “Cerca de 98% dos anticorpos produzidos por essas células não reconhecem o invasor”, explicou Paola Minoprio. “Uma defesa correta deveria induzir uma reação específica contra as moléculas-chave dos causadores da doença.” A reação não específica pode levar à redução total da capacidade de um indivíduo para produzir respostas imunológicas normais e ocasionar uma doença autoimune – em que o sistema imunológico ataca indiscriminadamente tecidos do próprio organismo. 

A partir de experimentos com camundongos, a equipe conseguiu identificar o gene do protozoário que codifica uma proteína com propriedades mitogênicas (TcPA45). A partir daí, desenvolveram um modelo experimental de vacinação intramuscular com DNA contendo o gene. “Injetando pequenas doses dessa proteína no organismo, estimulamos os linfócitos B a produzir anticorpos específicos”, afirma Minoprio. “Assim, uma resposta neutralizadora estará presente quando os parasitas entrarem em contato com o hospedeiro.” Testes demonstraram que a vacina induziu uma diminuição de 85% dos níveis de parasitas circulantes após infecção. 

A produção de mitógenos para confundir as respostas do sistema imune do hospedeiro é uma estratégia utilizada pela maioria das bactérias, fungos e vírus. A equipe de Paola Minoprio está trabalhando agora no isolamento dos genes de outros parasitas. “Já temos isolados mitógenos do parasita da malária, da candidíase e do vírus da peste porcina”, enumera. “Em breve, poderemos preparar vacinas contra todas essas moléstias.” 

Fonte: http://www.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n207.htm
acesso em fevereiro de 2002 

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