Inventor conta a história por trás do lendário Post-it

São Paulo – “Muitas pessoas se aproximam e dizem: ‘eu também tive a ideia de fazer um papel adesivo! ’. E eu pergunto: por que então não fez nada a respeito?”. É com essa frase que Arthur Fry, ex-cientista da 3M, começa a contar a história por trás da invenção do Post-it, um dos produtos mais conhecidos do planeta.

À primeira vista, o Post-it pode parecer simples, mas é fruto de uma complexa união entre tecnologia única (um adesivo sensível à pressão e com baixa aderência) e utilidade. A substância usada foi desenvolvida anos antes por outro cientista da 3M, Spencer Silver. Seu uso, porém, permaneceu uma incógnita durante anos até que, na década de 70, Fry encontrou “o problema para a solução”.

A criação rendeu a ele, além da fama mundial, com direito a recorrentes menções em filmes hollywoodianos, um lugar entre os inventores mais brilhantes da história dos Estados Unidos. “Além da inventividade do processo de criação do Post-it, o seu impacto econômico é enorme. Há anos consta entre os cinco itens de escritório mais vendidos nos EUA”, aponta Rini Paiva, porta-voz do National Inventors Hall of Fame.

E qual o segredo de Fry? Paciência, perseverança e, segundo o próprio, é preciso “tentar tudo, pois os mais bem sucedidos são aqueles que acumulam o maior número de fracassos”.

O inventor, hoje com 80 anos, conversou com EXAME.com sobre o momento “Eureka!” na criação do Post-it e deu dicas sobre os melhores caminhos para a invenção de algo verdadeiramente novo. Confira:

EXAME.com – Qual a história por trás da criação do Post-it?

Art Fry Eu tinha uma solução esperando por um problema. Um colega de 3M, Dr. Spencer Silver havia inventado uma espécie de adesivo de baixa aderência, mas não sabia como usá-lo. Então, eu descobri o problema enquanto cantava no coral da minha igreja. O nosso repertório era grande e costumávamos marcar as músicas com pedaços de papel. Um dia levantei para cantar e derrubei as partituras no chão.

Enquanto em pé, só pensava em como gostaria de algo que pudesse colar a papelada. Mas, todos os adesivos que eu conhecia da 3M tinham aderência tão forte que despedaçaria o papel. Bom, pensei então em como posso desenvolver um adesivo que tivesse o nível certo de aderência. E foi então que me lembrei da invenção de Silver.

Comecei a trabalhar nessa ideia, fiz à mão e distribui algumas amostras, em forma de marca-livros. Em poucas semanas, outras pessoas do laboratório começaram a pedir mais. “Eureka! Que ótima notícia!”, foi o que disse quando percebi que tínhamos algo maior em mãos.

A ideia de transformá-lo em bloco de notas veio depois e a máquina que possibilitou a fabricação do Post-it nesse formato foi construída por mim, no meu próprio porão. Ninguém tinha tecnologia que permitisse isso. E funcionou!

EXAME.com – Como é possível diferenciar uma boa ideia de uma má ideia?

Fry – Pode ser uma boa ideia para o inventor e má ideia para quem vai comprá-la. Você precisa de algo que se enquadre nas necessidades das pessoas. Tem que testar e observar se, de fato, resolve o problema.

E inovação é quando as pessoas compram o seu produto e ele ajuda a transformar os velhos hábitos em novos padrões. Portanto, para saber se sua ideia é boa, você precisa saber se é válida. E a melhor maneira de descobrir isso é escutar as pessoas e buscar criar algo que seja útil.

EXAME.com – Qual o melhor caminho para inovar?

Fry Existem várias maneiras para começar a criar. Uma delas é começar a partir da tecnologia que você tem disponível. Então, pense o que pode ser feito com ela e se as pessoas realmente precisam disso.

Outra estratégia é começar com a ideia de produto. Depois que você já tem isso esclarecido, analise como pode fazê-lo e, mais uma vez, se é necessário. Quanto antes tiver protótipos prontos para serem testados pelas pessoas, melhor.

Uma terceira via é perceber a necessidade das pessoas e os problemas que enfrentam para fazer determinada coisa. Sua tarefa então é a de pensar em soluções para estes obstáculos.

Também pode ser uma questão de observar como os consumidores estão fazendo as coisas. Talvez eles nem saibam que tem um problema, pois já tem uma maneira de contorná-lo. O inventor pode então olhar para a situação e enxergar o que é preciso para resolvê-la.

EXAME.com – O senhor tem algum método predileto?

Fry – Não, nenhum método específico. Minhas ideias surgem das mais variadas formas. Participo de seminários, leio vorazmente e acúmulo conhecimento. Adoro conhecer as pessoas, entender o que elas estão fazendo e como estão fazendo. Sou muito curioso e adoro descobrir se eu consigo ajudá-las a fazer algo melhor e de maneira mais fácil.

EXAME.com – Qual o recado que o senhor dá aos inventores de plantão em busca de criar algo inédito?

Fry Tente tudo, as pessoas mais bem sucedidas são as que acumulam a maior quantidade de fracassos. Desenvolva muitas ideias. Às vezes, os obstáculos que te impedem de contornar algum problema de criação podem ser resolvidos quando você está trabalhando em outra coisa. Então, se mantenha ocupado e continue sempre aprendendo.

Você pode enxergar claramente coisas que os outros não enxergam. Precisa então aprender a vender a sua ideia. Nós, inventores, temos que ser professores pacientes. Se fizermos isso, a paciência e perseverança vão ajudar a ganhar a batalha.

Existem pessoas com excelentes ideias. As ideias, porém, acabam ficando pelo caminho justamente porque seu inventor não tem a perseverança e a paciência necessárias para que sua criação dê certo.

É trabalho duro, mas é muito divertido. E é melhor ainda quando você trabalha para uma empresa que lhe paga para isso (risos).

Fonte: https://exame.abril.com.br/tecnologia/inventor-conta-historia-por-tras-do-lendario-post-it/

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